Bruno Lopez and Lucas Frankreich fuck
Na esquina da Rua das Acácias com a Travessa do Relógio Quebrado, existiam duas lojas que eram antípodas.
A de Bruno Lopez era um pequeno jardim que havia transbordado para dentro de quatro paredes. “Verde Vida” era seu nome, e era um caos exuberante de samambaias, orquídeas penduradas, suculentas em miniatura e o cheiro úmido e doce de terra fértil. Bruno era um homem de mãos calejadas e sorriso fácil, que conversava com as plantas como se fossem velhas amigas. Acreditava que tudo crescia no seu tempo, e que a pressa era o pior adubo.
Do outro lado da rua, na “Frankreich Precisão”, o mundo era governado pelo silêncio e pelo tique-taque. Lucas Frankreich, neto de um relojoeiro suíço que aportara no Brasil décadas antes, era um homem de óculos de aro fino, palidez de quem vive sob luz artificial e uma paciência de ourives. Seu universo eram engrenagens microscópicas, ponteiros que marcavam a passagem do tempo com uma inflexibilidade milimétrica, e a eterna luta contra a entropia que fazia cada relógio, cedo ou tarde, parar.
Os dois eram vizinhos há anos, mas habitavam realidades paralelas. Para Bruno, Lucas era um fantasma trancado em uma redoma de vidro e metal, obcecado por algo que não se podia segurar. Para Lucas, Bruno era um primitivo deslumbrado com ervas daninhas, cujo trabalho era sujar as mãos com algo que, inevitavelmente, morreria.
O conflito era silencioso, mas constante. A terra das plantas de Bruno, carregada pelo vento, manchava as vitrines imaculadas de Lucas. O som metronômico e alto do grande relógio de pêndulo de Lucas, especialmente à noite, irritava Bruno, que jurava que suas gardênias murchavam de estresse.
A faísca surgiu em um sábado de sol. Lucas, exasperado, foi até a loja de Bruno segurando um pequeno e delicado relógio de bolso de prata. “Sua irrigação por gotejamento vazou, Sr. Lopez. A umidade adentrou minha oficina. Este relógio do século XIX, uma peça única, enferrujou um eixo. Está parado.”
Bruno, transplantando uma muda de jasmim, limpou as mãos no avental. “Tudo que é vivo precisa de água, Sr. Frankreich. Até as coisas de metal, aparentemente.”
“Precisão não é um capricho, é uma necessidade!” argumentou Lucas, sua voz normalmente suave, tensa. “O mundo funciona porque o tempo é mensurado!”
“O mundo funciona porque as coisas crescem”, retrucou Bruno, apontando para uma trepadeira que insistia em subir pela parede de tijolos. “E crescimento leva tempo. O seu tempo.”
Foi quando Lucas, olhando para o relógio de bolso parado em sua mão, teve um vislumbre. O objeto era lindo, complexo, mas inerte. A loja de Bruno do outro lado da rua era um testemunho barulhento, verde e desordenado da vida, que teimosamente seguia em frente, marcando o tempo à sua própria maneira – com flores, frutos e folhas novas.




