Brit boy BenjiJacobs breeds James Ash
O apartamento de James Ash cheirava a tinta fresca e solidão. Recém-chegado de São Paulo, ele havia trocado o calor barulhento da família por um estúdio minimalista em Brighton, tudo por um mestrado em arquitetura que, até então, só lhe dava frio na barriga e saudade de casa.
Foi numa tentativa desesperada de se conectar que ele entrou em um fórum online sobre música britânica dos anos 80. E foi lá que ele encontrou “Brit_Boy”.
Brit_Boy, cujo nome real era Ben, era um arquivista de Manchester com um conhecimento enciclopédico sobre bandas obscuras e uma paixão contagiante por The Smiths. Suas mensagens eram longas, cheias de curiosidade genuína e um humor seco que inicialmente confundiu James, mas logo o fez rir alto sozinho em seu apartamento silencioso.
As mensagens de texto evoluíram para chamadas de voz. A voz de Ben era mais grave do que James imaginara, com um sotaque carregado que dançava em seus ouvidos. Eles falavam de tudo: das diferenças culturais absurdas, da chuva inglesa versus o sol paulistano, de seus medos e de suas paixões mais secretas.
James descobriu que se apaixonar por alguém é, primeiro, se apaixonar pela sua mente. Ele amava a forma como Ben descrevia as ruas de Manchester, a maneira como defendia uma música b-side com unhas e dentes, a paciência com que explicava gírias locais.
O primeiro encontro foi marcado para um fim de semana em Londres, um ponto neutro. James estava um caco, vestindo e trocando de camisa três vezes. Quando viu Ben de pé sob o relógio da estação de Paddington, usando um casaco verde escuro e um sorriso tímido, o mundo simplesmente desacelerou.
Ben não era uma fotografia pixelada ou uma voz ao telefone. Era real. Suas mãos estavam frias quando se cumprimentaram, mas o aperto foi firme.
“Então você é o James Ash”, Ben disse, seus olhos claros percorrendo o rosto de James.
“E você é o famoso Brit_Boy”, James retorceu, o coração batendo tão forte que ele temeu que Ben pudesse ouvir.
O fim de semana foi uma sequência perfeita de andar sem rumo pela cidade, visitar uma galeria de arte e beber chá em um café aconchegante enquanto a chuva fina caía lá fora. A distância física, que antes era um abismo, agora se transformava em proximidade. Cada toque acidental, cada olhar sustentado, era uma confirmação.
Na noite final, em frente ao hotel de James, a despedida pairou no ar, pesada e doce.
“Então…”, Ben começou, as mãos enfiadas nos bolsos.
“Então…”, James ecoou.
Não houve um momento grandioso de declaração. Simplesmente aconteceu. Ben esticou a mão e tocou o rosto de James, seu polegar acariciando sua mandíbula.
“Acho que não aguento te colocar num trem de volta para Brighton”, Ben sussurrou.
James sorriu, uma onda de alívio e felicidade lavando sobre ele. “Quem disse que eu vou voltar sozinho?”
O beijo foi um acerto de contas, a culminação de meses de palavras não ditas e sentimentos cultivados à distância. Sabia a chá, a chuva e a coragem de começar tudo de novo em um lugar novo, mas com a pessoa certa ao lado. James Ash, o paulistano, e Ben, o Brit Boy, haviam finalmente encontrado seu porto seguro um no outro.




