Braden Sherota “breeds” Artiomboyx

O armazém abandonado na zona industrial era o santuário de Artiomboyx. Lá, entre latas de tinta spray, pôsteres rasgados e a luz fraca que entrava por janelas quebradas, ele dava vida a criaturas mecânicas e paisagens distópicas. Seu graffiti não era vandalismo; era uma revolução silenciosa, uma fuga de um mundo que não o entendia.
Braden Sherota não pertencia àquele lugar. Com seus ternos sob medida e um relógio que custava mais que um carro, ele era o novo proprietário daquele pedaço de terra esquecido, destinado a se tornar mais um condomínio de luxo. Sua missão naquela tarde era fazer uma vistoria final.
O que ele encontrou não foi entulho, mas arte.
A porta rangeu ao abrir, e a luz do dia invadiu o espaço, iluminando uma parede onde uma figura cibernética, metade menino, metade máquina, estendia a mão para tocar uma borboleta feita de circuitos. A riqueza de detalhes, a emoção crua na expressão do robô, era de cortar o coração.
E então, ele viu o artista.
Artiomboyx estava no alto de uma escada improvisada, concentrado em finalizar os contornos da borboleta. Ele usia um casaco com capuz, mas mechas de cabelo roxo escapavam. Não ouviu Braden entrar.
Braden deveria ter dito algo. Devia tê-lo expulsado, chamado a segurança. Em vez disso, ficou paralisado, não pela raiva, mas pela beleza daquilo que via. Era a coisa mais pura e verdadeira que ele tinha visto em anos.
“É… ‘Artiomboyx’?”, leu Braden a assinatura estilizada no canto.
A voz ecoou no armazém vazio. Artiomboyx se virou tão rápido que quase perdeu o equilíbrio. Seus olhos, delineados com kohl, se arregalaram de medo e desafio.
“É propriedade privada”, disse Braden, mas a frase soou oca, sem convicção.
“Tudo é propriedade de alguém”, respondeu Artiomboyx, a voz um pouco trêmula, mas firme. “Isso não significa que não precise de um pouco de beleza.”
Braden deu um passo à frente, olhando para a monumental obra de arte. “Por que aqui? Por que esse lugar?”
“Porque está vazio. Porque ninguém vem aqui. É um segredo.” Ele desceu da escada, pronto para fugir. “Você vai me denunciar?”
Braden não respondeu. Em vez disso, apontou para a figura central. “Por que ele está triste?”
Artiomboyx hesitou, surpreso pela pergunta. “Porque ele é feito de metal e código, mas sonha em sentir o toque da borboleta. Sonha em ser orgânico, real.”
Algo naquelas palavras ecoou profundamente dentro de Braden. Ele, feito de dinheiro e expectativas, que sonhava em sentir algo real há anos.
“Termine”, Braden disse, finalmente.
“O quê?”
“Termine sua obra. Você tem até o fim da semana. Depois… depois eles começam a demolir.”
Era um risco, era irracional, era contra tudo o que ele representava. Mas era belo.
Artiomboyx olhou para ele, tentando decifrar a armadura de terno que Braden vestia. Ele viu não um inimigo, mas um aliado confuso.
Nos dias seguintes, Braden voltou. Primeiro, para observar. Depois, trouxe café. Eles não falavam muito. Braden sentava em uma caixa de madeira, assistindo Artiomboyx mergulhar em seu processo criativo, as mãos manchadas de tinta, a expressão intensa de absoluta concentração.
Braden contou sobre a pressão de sua família, a solidão do topo. Artiomboyx falou sobre ser deserdado pela sua, por ser “demais”: muito dramático, muito diferente, muito ele mesmo.
A atração não foi um choque, mas uma onda quente que os envolveu devagar. Braden foi atraído pela coragem crua de Artiom. Artiom foi atraído pela vulnerabilidade que Braden escondia sob o terno.
Na última noite, a obra estava completa. Um mundo mecânico e melancólico, mas com uma centelha de esperança na borboleta que pousava suavemente sobre o dedo de metal do menino.
“Ela vai ser destruída amanhã”, Artiom sussurrou, a dor evidente em sua voz.
Braden olhou para a parede, e então para o rosto de Artiom, iluminado pela luz do crepúsculo. Pegou o seu smartphone, caríssimo, e começou a tirar centenas de fotos, de cada ângulo, cada detalhe.
“O que você está fazendo?”, Artiom perguntou.
“Preservando-a”, Braden respondeu. “Eles podem derrubar estas paredes, mas não podem derrubar o que eu guardei. Não podem derrubar o que sinto.”
Ele se aproximou, e pela primeira vez, tocou a mão de Artiom, manchada de tinta prateada.
“O condomínio vai ser construído. Mas o saguão principal… precisa de uma peça central. Algo único. Algo que dê alma ao lugar.”
A compreensão iluminou o rosto de Artiom.
“Você quer…?”
“Quero que você faça uma instalação permanente. Com luzes, talvez. E seu nome, ‘Artiomboyx’, bem grande para todo mundo ver.”
Artiom riu, um som que ecoou naquele armazém vazio como uma sinfonia. “Você é louco.”
“Pela primeira vez, estou completamente são”, Braden corrigiu, puxando-o para um abraço.