BR Novinho sentiu a pica do dotado – Gabriel Coimbra, Leonardo Boy e Luis Felipe
O estúdio de dança era o mundo de Gabriel Coimbra. Lá, entre espelhos e barras, ele traduzia a vida em movimento. Seus passos eram precisos, sua expressão, impecável. Mas seu coração batia num ritmo solitário, como se esperasse por um parceiro que nunca chegava.
Leonardo Boy era a tempestade que entrou sem pedir licença. Cabelos desalinhados, roupas com tintas de três projetos diferentes e um sorriso que desarrumava a simetria perfeita do mundo de Gabriel. Era pintor, e viera fazer um mural no hall de entrada. Ele não dançava, mas fazia Gabriel girar com suas histórias e seu jeito despretensioso.
Enquanto isso, Luis Felipe era a melodia constante. Pianista talentoso, era ele quem fornecia a trilha sonora para os ensaios de Gabriel. Conhecia cada músculo do corpo do dançarino, cada nuance de seu humor, pelo simples movimento que ele executava ao som de suas teclas. Luis Felipe amava Gabriel em silêncio, há anos, acreditando que aquele era um amor de fundo de cena, que nunca chegaria ao palco.
A química entre Gabriel e Leonardo foi imediata e explosiva. Era o choque entre a disciplina e o caos, e a faísca que surgia era irresistível. Leonardo não via um *plié*, via a asa de um pássaro se preparando para voar. Não via um *pirouette*, via um redemoinho de emoção. E Gabriel, acostumado a ser visto como uma máquina de perfeição, sentiu-se, pela primeira vez, humano e desejado em sua essência, não em sua técnica.
Luis Felipe assistia a tudo, e o piano, às vezes, desafinava de dor.
O grande espetáculo do ano se aproximava. Gabriel coreografara uma peça sobre encontros e desencontros, e Leonardo pintava o cenário – um turbilhão de cores que parecia sangrar da tela para a alma de todos. Luis Felipe compusera a música, uma peça dolorosamente bela que era o retrato sonoro de seu coração partido.
Na véspera da estreia, sob a luz fraca do estúdio vazio, Gabriel ensaiava. Leonardo estava no alto do andaime, dando os últimos retoques. Luis Felipe, ao piano, observava.
Foi então que Gabriel, em um salto ousado, caiu mal. Um estalido seco cortou o ar, seguido por um grito de dor. Ele estava no chão, o tornozelo inchando a olhos vistos.
O desespero tomou conta de todos. Sua carreira, naquele momento, parecia ter chegado ao fim.
Leonardo desceu do andaime como um furacão, os olhos cheios de pânico. Foi Luis Felipe, porém, quem agiu com uma calma decisiva. Acalmou Gabriel, imobilizou o tornozelo com a frieza de quem estava acostumado a consertar harmonias quebradas e chamou a ambulância.
Naquela noite, no hospital, a verdade veio à tona.




