BR MINEIRO DOTADO Aluisio do privacy está causando na web, vem ver só!
O trem bala deslizava pela paisagem, transformando o verde exuberante de Minas em um borrão contínuo. Marina, com a testa encostada na vidraça fria, sentia o eco de cada batida do coração. Estava fugindo. De um noivo conveniente, de uma vida pré-moldada, de si mesma. Um mês de solidão em uma pousada no interior era a sua prescrição para encontrar… algo. Qualquer coisa que não fosse o vazio polido que sentia no peito.
A pousada “Sossego” ficava no topo de uma colina, cercada por pés de café e o canto insistente dos sabiás. Foi lá que ela o viu pela primeira vez. Ele estava consertando uma cerca, com as costas voltadas para ela, os músculos do braço tensionados sob a camisa de brim. Quando se virou, seus olhos eram da cor do café fresco e um sorriso fácil iluminava o rosto queimado pelo sol.
— Boas-vindas. Sou Eduardo — disse ele, a voz um sotaque mineiro suave, como água correndo sobre pedras redondas.
— Marina — ela respondeu, sentindo um calor tolo subir por seu pescoço.
Eduardo, o “Mineiro Dotado”, não era dotado no sentido convencional que os amigos de Marina na cidade usariam a palavra. Sua dotação não estava em riquezas ou títulos, mas em uma conexão profunda e quase ancestral com a terra. Ele sabia o nome de cada pássaro, a história por trás de cada árvore retorcida no caminho. Suas mãos, calejadas, eram capazes de entalhar beleza em um pedaço de madeira e, ao mesmo tempo, acalmar um potro assustado.
Nos dias que se seguiram, Marina se encontrou seguindo Eduardo em suas rotinas. Ele lhe mostrava como colher goiabas no ponto exato de doçura, como distinguir o rastro de um tatu na terra fofa. Ele não falava muito, mas quando falava, cada palavra parecia ter peso, significado.




