BR GAÚCHO GARCIA foi macetado pelo vizinho BOMBEIRO

O sol poente tingia de ouro as ruas de Porto Alegre quando Gaúcho Garcia fechou a última porteira do seu pequeno escritório. Não lidava com gado, mas com números, um contador que herdara do avô o apelido e o sotaque carregado. Sua vida era de rotina previsível, como uma cerca bem esticada no pampa.
No caminho para casa, uma fumaça densa cortou o crepúsculo. Um prédio antigo na esquina ardia em chamas. Gaúcho estacionou o carro, o coração batendo forte. Foi quando viu. Um homem, imponente na roupa amarela de bombeiro, carregava nos braços uma criança chorando. Seus movimentos eram ágeis e decisivos, mas seus olhos, sob o capacete, transmitiam uma calma profunda que contradizia o caos ao redor.
O tempo pareceu desacelerar. O bombeiro — que na farda trazia o nome “Silva” — passou por Gaúcho, seus olhares se cruzando por um segundo que pareceu uma eternidade. Gaúcho sentiu algo estremecer dentro de si, algo que não era apenas a comoção do momento.
Dias depois, por um acaso do destino, Gaúcho foi chamado para uma palestra de prevenção de incêndios na empresa onde trabalhava. E lá estava ele. O Bombeiro Silva. Sem a proteção do capacete, Gaúcho pôde ver seu rosto: traços fortes, um sorriso fácil que fazia cócegas nos olhos. Seu nome era Eduardo, mas naquele momento, para Gaúcho, ele era apenas “o Bombeiro” que havia invadido seus pensamentos.
A palestra terminou e Gaúcho, com uma coragem que não sabia ter, aproximou-se.
“A gente se vê naquele prédio em chamas na Rua da Ladeira,” disse Gaúcho, o sotaque mais evidente do que o normal.
Eduardo olhou para ele, um leve reconhecimento brilhando em seus olhos. “Lembro. Foi um dia intenso. Eduardo,” disse, estendendo a mão.
“Gaúcho. Garcia,” ele respondeu, apertando a mão forte e segura.