BR Daniipovoas gosta de mamar UBER, vem ver!

O mundo de Danii era feito de silêncios. Como restauradora de livros antigos na Biblioteca Nacional, suas mãos conheciam a textura do tempo, o cheiro do papel século XVIII, a delicadeza de salvar histórias do esquecimento. Seus dias eram passados na luz suave de uma mesa de trabalho, rodeada por tesouros empoeirados que sussurravam segredos de outras eras. Era uma vida solitária, e ela a preferia assim.
Tudo mudou quando a biblioteca contratou um novo especialista em digitalização. Seu nome era Mateus Povoas, e ele era um furacão de tecnologia e ruído. Chegou com scanners de alta resolução, fones de ouvido com vazamento de bateria e uma energia contagiante que parecia profanar a quietude sagrada da sala de restauro.
“No futuro, tudo isso caberá num chip,” ele anunciou, com um gesto amplo para as estantes centenárias.
Danii o odiou instantaneamente.
Ele era a antítese de tudo o que ela valorizava. Enquanto ela trabalhava com paciência milimétrica, colando fragmentos de letras com pinças, ele falava em “eficiência” e “acesso global”. Eles discutiam sobre a umidade do ar, sobre a intensidade da luz, sobre o valor do toque humano.
A tensão era palpável, até o dia em que uma rara edição de Camões, do século XVII, chegou às mãos de Danii em estado crítico. A capa estava descolando, as páginas frágeis como asas de borboleta. Mateus, por acaso, passou e viu a concentração absoluta em seu rosto.
“Posso ajudar?” ele ofereceu, inesperadamente suave.
Ela esperava uma piada sobre a tecnologia. Em vez disso, ele ficou horas ao seu lado, segurando delicadamente as páginas enquanto ela aplicava a cola, sua mão antes tão associada a teclados agora imóvel como uma rocha. Ele não disse uma palavra. Apenas observou, e em seu olhar, Danii não viu o inimigo da tradição, mas uma curiosidade genuína.
A partir daquele dia, uma trégua nasceu. Mateus começou a lhe perguntar sobre as histórias por trás dos livros que ela restaurava. Danii, por sua vez, surpreendeu-se ao interessar-se pelos algoritmos que ele usava para decifrar textos manchados pelo tempo.
O amor não chegou com um romance épico, mas com a quietude de uma tarde em que ele lhe mostrou como uma assinatura quase apagada num livro do século XIX podia ser revelada com um filtro digital. E ela lhe mostrou como, às vezes, o melhor jeito de ler uma mancha de vinho antiga era não lê-la, e sim imaginá-la.
Danii, a guardiã do passado, e Mateus, o arquiteto do futuro, descobriram que o amor era a linguura perfeita que unia o que é eterno ao que está por vir. E no silêncio da biblioteca, agora compartilhado, o passado e o futuro dançavam uma valsa suave, ao som do virar de uma página — seja ela de papel ou de luz.