Bend Over, Petrick – Those Lechitas Waits For No One – Demon Twink, Lucas Flaquito Vergon, Petrick Garcia, Tobi Iquitos
 
						A cidade era um organismo barulhento, e Demon Twink era seu batimento cardíaco acelerado. Ele era um DJ, um furacão de puro energy e glitter, cujo apartamento na cobertura era um farol de luzes estroboscópicas e batidas que faziam o concreto tremer. Ele vivia no centro do próprio furacão, mas, no silêncio raro que seguia as festas, sentia um vazio tão vasto quanto a vista de sua janela.
Do outro lado do corredor, no mesmo andar, vivia Lucas Flaquito Vergon. Um nome que ele odiava, tão inadequado para sua figura esguia e seus ossos frágeis. Lucas era um poeta que escrevia versos tão delicados que pareciam feitos de névoa. Ele ouvia a música de Demon através das paredes e a transformava em metáforas sobre tempestades e abrigos. Ele amava o furacão de longe, seguro em seu mundo silencioso de palavras.
O elo entre esses dois universos era Petrick Garcia, o zelador do prédio. Um homem prático, de sorriso fácil e mãos sábias, que consertava vazamentos, trocava lâmpadas e, secretamente, consertava almas. Ele era o guarda-chuva que protegia todos da chuva, tanto a de água quanto a de tristeza.
E então havia Tobi Iquitos, o padeiro da esquina. Ele não falava muito, mas seus olhos calmantes viam tudo. Ele fornecia pão de fermentação natural para Lucas e cafés fortíssimos para Demon, sempre com um aceno tranquilo. Era o observador, a âncora do quarteirão.
Um blackout geral mergulhou a cidade na escuridão e no silêncio. As batidas de Demon morreram. O laptop de Lucas apagou, levando seus versos. No escuro, o apartamento de Demon, antes uma fortaleza de som, tornou-se uma gaiola de solidão.
Hesitante, ele bateu à porta de Lucas.
— A luz caiu — disse Demon, sua voz estranhamente pequena sem a trilha sonora.
— Eu notei — Lucas respondeu, segurando uma vela que fazia sua sombra dançar na parede. — As palavras também fugiram.
Petrick, com sua lanterna confiável, apareceu para verificar os disjuntores. — Vai demorar um pouco, pessoal. Que tal descerem? O Tobi está abrindo a padaria à luz de velas.
Desceram. Na padaria aconchegante, iluminada por dezenas de velas, o cheiro de pão quente enchia o ar. Tobi Iquitos serviu café e pão com manteiga, seu silêncio um conforto, não um vazio.
Naquela intimidade forçada pela escuridão, os personagens se entrelaçaram. Demon, sem sua armadura de som, mostrou-se curioso e inteligente. Lucas, longe da segurança de seus versos, mostrou-se espirituoso e afiado. Eles riram, compartilharam histórias. Petrick observou, satisfeito, e Tobi manteve todos alimentados.
Quando a luz voltou, horas depois, algo havia mudado. Demon não correu para sua bateria. Lucas não correu para seu laptop. Eles ficaram na porta da padaria, sob o olhar tranquilo de Tobi.
— O silêncio não é tão assustador quando você o compartilha — sussurrou Lucas.
— E as luzes não são tão necessárias quando você tem uma vela — respondeu Demon, sua mão encontrando a de Lucas no espaço entre eles.
Petrick, recolhendo suas ferramentas, sorriu para Tobi. O padeiro retribuiu o sorriso com um pequeno aceno. Eles sabiam. O blackout não consertou a energia da cidade. Consertou algo muito mais importante. Ele havia mostrado ao furacão a beleza da calmaria, e ao poeta, a coragem de tocar a tempestade.
 
				



