Behind the scenes: THE MOTORCYCLIST – Ruslan Angelo, Simon Wild Tejon
O sol era um algoz implacável sobre o asfalto da Route 66. Ruslan Angelo encostou sua moto, uma Harley antiga e surrada, na beira da estrada, o motor pingando óleo e desespero. Ele era um nômade por necessidade, não por escolha, fugindo de um passado que queimava mais que o calor do deserto.
Foi quando um caminhão pickup vermelho, mais ferrugem do que tinta, parou ao seu lado. Na janela, apareceu um homem com um chapéu de cowboy desgastado e um sorriso que parecia capaz de domar o sol.
“Parece que você e sua dama de ferro precisam de uma carona,” disse o homem, sua voz era áspera como a areia, mas seu olhar era tranquilo. “Simon Wild Tejon. Pode me chamar de Wild.”
Ruslan, acostumado à desconfiança, hesitou. Mas havia uma honestidade crua em Wild, uma autenticidade que faltava no mundo que ele deixara para trás.
A oficina de Wild era um galpão nos arredores de uma cidade-fantasma, um santuário de peças enferrujadas e sonhos abandonados. Enquanto Wild se metia debaixo da moto, suas mãos calejadas realizando um balé preciso com chaves e ferramentas, Ruslan observava. Ele observava os braços musculosos de Wild, as tatuagens desbotadas que contavam histórias de uma vida livre, e a paciência com a qual ele conversava com a máquina.
Ruslan era angústia e fuga. Wild era raiz e permanência.
Os dias se estenderam. Ruslan, que só sabia correr, aprendeu a ficar parado. Ajudou a pintar uma cerca, a consertar o telhado do galpão. À noite, sentavam na varanda, ouvindo os coyotes uivarem para a lua. Wild não fazia perguntas. Ele oferecia silêncio, e naquele silêncio, Ruslan começou a se ouvir.
Ele contou sobre sua vida anterior, sobre as gaiolas douradas que chamavam de sucesso. Wild escutou, balançando a cadeira, e depois contou sobre seu apelido. “Tejon é um texugo. Um animal teimoso, que cava suas tocas e defende o que é seu. Não é bonito, mas é resistente. É o que sou.”
Foi numa dessas noites, com o céu estrelado parecendo tão perto que poderiam tocá-lo, que Ruslan percebeu. Percebeu que não conseguia mais imaginar a estrada sem imaginar a varanda de Wild no fim dela. Percebeu que a fuga havia, finalmente, levado a um destino.




