Andolini and Ygor Joy fuck

O sol da Toscana mergulhava a villa dos Andolini em tons de ouro e âmbar quando Ygor Joy chegou. Ele não era um homem de posses, mas de paz, contratado para restaurar os afrescos desbotados da capela da família. Seus dedos, calejados pela enxada e pelo tempo, tremiam ao tocar na pintura sagrada, mas encontravam uma firmeza surpreendente ao misturar as cores.
Ele a viu primeiro em um retrato na galeria: Sofia Andolini, com os olhos que guardavam o mar e um sorriso que prometia tempestades. Acreditava que ela era apenas mais uma figura dourada daquela linhagem, até encontrá-la de verdade, não em um quadro, mas sentada no banco de pedra do jardim, lendo um livro de poesias com a lombada gastinha.
Sofia era o oposto de tudo que Ygor conhecia. Enquanto ele consertava as fissuras do passado nas paredes, ela parecia determinada a criar rachaduras no presente. Herdeira de um mundo de expectativas e jantares formais, ela carregava um cansaço nos ombros que nem a seda mais fina conseguia esconder.
Os dias se transformaram em um ritual silencioso. Ygor subia no andaime ao amanhecer; Sofia aparecia no fim da tarde. Eles não trocavam muitas palavras. Ele mostrava o progresso do anjo cujas asas ele estava dando vida; ela lia em voz alta os versos de Fernando Pessoa. Era uma dança de nuances, onde um olhar valia mais que um discurso.
O amor não chegou como um furacão, mas como a tinta que Ygor usava: penetrante, constante, colorindo tudo de forma irreversível. Foi em um entardecer de verão, com o cheiro de tinta a óleo e jasmim no ar, que ele percebeu. Ele estava restaurando o rosto de um santo e, sem perceber, havia dado a ele os olhos de Sofia.
“Ygor,” ela chamou, sua voz um fio de seda no ar parado. “O que você vê quando pinta?”
Ele desceu do andaime, as mãos sujas de azul e ocre. “Vejo histórias, Senhorita Sofia. Histórias que foram cobertas pela poeira do tempo.”
Ela se aproximou, seu vestido branco um contraste com suas roupas manchadas. “E o que você vê quando me olha?”
A coragem brotou de um lugar que ele não sabia existir. “Vejo a história que eu gostaria de viver.”
O beijo deles foi como a primeira pincelada em uma tela em branco: cheio de possibilidade, de medo e de uma beleza avassaladora. Foi o início de um romance proibido, escondido entre as sombras dos ciprestes e o clarão das estrelas. Ele, um artesão; ela, uma Andolini. Um abismo intransponível na rígida sociedade toscana.
Quando a família dela descobriu, a tempestade foi tão feroz quanto ele previra. O pai de Sofia, um homem cujo orgulho era mais antigo que as próprias paredes da villa, deu a Ygor Joy duas opções: desaparecer para sempre ou enfrentar consequências que arruinariam sua vida simples.
Na última noite, Ygor não foi ao jardim. Foi para a capela. Sob a luz de uma única vela, com o coração despedaçado, ele pegou os pincéis mais finos e uma ínfima quantidade de tinta dourada. No canto mais escuro do afresco, no manto do anjo que agora tinha os olhos de sua amada, ele pintou dois nomes minúsculos, entrelaçados para sempre: *Andolini & Ygor Joy*.
Ele partiu antes do amanhecer, sem se despedir. Deixou para trás as cores, os cheiros, o eco de uma felicidade que não lhe pertencia.
Anos se passaram. Sofia herdou a villa, mas nunca se casou. Ela passava horas na capela, não para rezar, mas para se lembrar. Um dia, um raio de sol incidiu no exato ângulo, iluminando o canto escondido do afresco. E lá estava, brilhando como um segredo divino, a assinatura do seu amor impossível.
Do outro lado do mundo, Ygor Joy nunca mais pintou. Mas em uma pequena oficina, ele esculpia em madeira o mesmo rosto, vezes sem conta. E sempre, sem falha, ele pintava os olhos com a cor do mar da Toscana.
Eles viveram vidas separadas, mas suas almas permaneceram entrelaçadas naquele afresco, um testemunho silencioso de que o amor mais puro, às vezes, não é aquele que se vive, mas aquele que se torna parte da eternidade, escondido à vista de todos, esperando pela luz certa para brilhar.