Amin Rivers and Gabriel Paxxeco fuck
Amin Rivers sempre soube que os livros eram portais. Enquanto bibliotecário da velha “Livraria do Esquecido”, ele passava os dias restaurando volumes antigos, sentindo o eco das histórias nas pontas dos dedos. Seu cabelo grisalho era empoeirado de séculos, e seus olhos azuis, raramente erguidos das páginas, guardavam a quietude de um lago profundo.
Tudo mudou na terça-feira em que “O Compendium das Almas Desgarradas” chegou, envolto em couro de serpente e um silêncio inquietante. Ao abri-lo, uma luz dourada irrompeu, projetando mapas de constelações desconhecidas no teto. E, do corredor de astronomia, surgiu Gabriel Paxxeco.
Gabriel era o oposto de Amin: jovem, inquieto, com olhos castanhos cheios de fogo curioso e roupas que pareciam ter sido costuradas com fragmentos de auroras boreais. Ele não era um cliente comum; era um *Viajante do Limiar*, um andarilho de dimensões, e aquele livro era sua bússola.
“Ele apontou para cá”, disse Gabriel, apontando para uma ilustração do livro que mostrava justamente a estante onde Amin estava. “Preciso do Guardião do Portal para atravessar. O último portal está aqui.”
Amin negou, abalado. Seu trabalho era preservar histórias, não abrir caminhos para elas. Mas Gabriel explicou, com uma urgência triste, que o último portal levava ao *Reino da Narrativa Pura*, um plano onde todas as histórias não contadas iam se dissipar. Algo o estava corroendo de dentro para fora, e se fechasse, toda a inspiração do mundo secaria. A criatividade humana definharia em silêncio.
Relutante, Amin concordou em ajudar. Descobriu que ser “Guardião” não era apenas cuidar de livros, mas de *potenciais*. Usando tinta feita de suas próprias memórias (o azul de seu primeiro mar, o verde do bosque de sua infância) e a voz cantante de Gabriel para recitar encantamentos, eles encontraram o portal: não uma porta, mas o espelho embaçado no banheiro dos fundos da livraria, que sempre refletia uma estante a mais.
No momento da travessia, uma sombra se materializou – o *Devorador de Finais*, uma entidade feita de esquecimento e desistência. Ela tentou engolir o portal, distorcendo a realidade da livraria, fazendo livros voarem como pássaros assustados.
“Continue a leitura! Eu seguro ele!”, gritou Gabriel, suas mãos tecendo luzes defensivas, mas ele estava fraco, sua energia vinculada ao portal que se fechava.
Amin, então, fez o que um bibliotecário sabe fazer melhor: contou uma história. Não leu, mas *improvisou*. Falou de um herói corajoso que nunca desistia, de um amor que atravessava dimensões, de um final ainda não escrito. Cada palavra era uma âncora, uma agulha costurando o tecido rasgado da realidade. A sombra vacilou, confundida pela nova narrativa, um enredo que ela não podia devorar porque estava sendo criado naquele instante.
Com um último esforço, Gabriel saltou no espelho, que brilhou como um sol. A sombra desintegrou-se em poeira de letras mortas.
O portal se fechou.
Na livraria silenciosa, Amin olhou para o espelho comum. Refletia apenas ele e as estantes. Mas, ao tocar o vidro, sentiu uma calorosa pulsação, como um coração distante batendo. E nos livros ao seu redor, novas palavras começaram a aparecer nas páginas em branco dos volumes inacabados, histórias de um viajante de olhos de fogo e mundos além do papel.
Gabriel estava perdido, mas não perdido para sempre. E Amin Rivers, o bibliotecário quieto, agora tinha uma nova função: não apenas guardar histórias, mas garantir que a ponte para quem as vivia permanecesse aberta, uma página de cada vez. Ele sorriu, pela primeira vez em anos, e pegou a caneta. Havia uma nova história para escrever. Ela começava com dois nomes.




