Alex Kof, Rio Grande, Ron Peralta – Triple Kiss, Triple Cock, Part 2 – The Wrecking

O armazém era um mundo esquecido à beira do rio, cheirando a madeira envelhecida e café. Era o reino de Alex Kof, um homem quieto que consertava barcos velhos com uma paciência que o Rio Grande, largo e indiferente, parecia respeitar. Sua vida era uma rotina solitária de marteladas e silêncio, interrompida apenas pelo som das águas.
Tudo mudou com a chegada de Ron Peralta. Ele apareceu num jipe poeirento, com um sorriso fácil e um contrato de aluguel para o galpão ao lado. Ron era caminhoneiro, e sua vida era a estrada. Ele trouxe consigo histórias de cidades distantes, caixas de ferramentas novinhas e uma energia que encheu o lugar.
“Alex Kof, né? O dono dos barcos. Vou ser seu vizinho!”, Ron anunciou, estendendo uma mão forte e marcada por cicatrizes de cordas.
Alex aceitou o cumprimento com um aceno cauteloso. Aquele homem era o oposto de tudo o que ele conhecia: barulhento, expansivo, cheio de futuro. Enquanto Alex remendava cascos, Ron consertava seu caminhão, falando sem parar sobre as curvas da Serra e o pôr do sol no sertão.
A princípio, Alex via aquela presença como uma invasão. Mas, com o tempo, a solidão que sempre o acompanhara começou a recuar, substituída pela voz de Ron. Ele descobriu que por trás da tagarelice havia uma solidão tão profunda quanto a sua, disfarçada de quilômetros percorridos.
O Rio Grande testemunhou o nascimento lento daquela amizade. Eles começaram a compartilhar café pela manhã. Ron trazia pão de queijo de Minas; Alex, peixe que ele mesmo pescava. As histórias de estrada de Ron se misturavam com os segredos do rio que Alex conhecia desde menino.
O amor chegou sem alarde. Num fim de tarde, Ron chegou da estrada mais cansado que o normal. Seus olhos, sempre brilhantes, estavam apagados. Sem dizer uma palavra, Alex lhe entregou uma caneca de café quente e apontou para uma cadeira ao lado do barco que estava restaurando.
Eles ficaram em silêncio, observando o Rio Grande correr. E naquela quietude compartilhada, Ron percebeu que tinha encontrado um porto. E Alex entendeu que, depois de tanto consertar barcos, havia consertado um coração – e, no processo, o seu próprio.
Dali em diante, o armazém não foi mais o mesmo. O som do martelo de Alex e o ronco do motor do caminhão de Ron se tornaram uma única melodia. Dois homens, um parado à beira do rio e outro que nunca parava na estrada, descobriram que o amor é isso: a curiosa geografia que une duas margens aparentemente distantes.