Alex Ferrari jerks off
O rugido do motor era uma sinfonia que Alex Ferrari entendia melhor do que qualquer idioma. Não o Ferrari de Maranello, mas o de seu sobrenome, herdado de um avô mecânico imigrante. Na garagem apertada do subúrbio, aquele som era sua verdadeira herança. Ele estava quase lá. O projeto de uma vida: um motor V8 personalizado, montado peça por peça, com reaproveitamentos geniais e paixão pura. Era para ser a alma de um carro antigo, uma obra de arte sobre rodas.
A última peça, uma árvore de cames rara que ele conseguira após um ano de buscas e negociações, chegou numa quinta-feira. Alex passou a noite inteira na garagem, guiado pela luz fria de um refletor e pelo calor de sua determinação. Quando o sol raiou, o motor estava completo. Um monumento de alumínio e aço. Ele conectou a bateria para o teste de ignição primária, só para ouvir o computador de bordo inicializar. Foi quando viu a tela piscar.
Não eram os diagnósticos esperados. Era um logotipo que ele nunca vira: um falcão estilizado. E uma mensagem: “Sistema Quantum-Drive ativado. Aguardando coordenadas de destino.”
Alex pensou que era uma piada, um vírus em um componente eletrônico reaproveitado. Ele tocou a tela para cancelar. Nada. Tentou desligar. O logotixo permaneceu. Irritado, digitou aleatoriamente: “Volte ao que era.”
O mundo do lado de fora da garagem—o som dos pássaros, o latido do cachorro do vizinho—desapareceu. Foi substituído por um zumbido profundo, como se a própria realidade estivesse vibrando. As ferramentas nas paredes começaram a flutuar. A porta da garagem desmaterializou-se, e em seu lugar, Alex viu um vórtice de luz e cor, um túnel que se estendia para o infinito.
Ele estava sentado no banco do motorista do chassi nu, diante de seu motor recém-montado, que agora brilhava com uma luz azulada interna. O “Quantum-Drive” não era um acessório de carro. Era exatamente o que o nome sugeria. A peça rara, a árvore de cames… não era de um carro clássico. Era parte de um protótipo experimental de propulsão dimensional, perdido em um leilão de sucata de alta tecnologia após o fechamento de um laboratório obscuro.
Sem saber como, Alex pensou em um lugar. O único lugar que sempre o acalmou: a estrada costeira perto de Big Sur, ao pôr do sol, onde ele e seu pai costumavam dirigir. A imagem formou-se em sua mente com clareza absoluta.
O motor rugiu. Não o rugido visceral da gasolina, mas um pulso silencioso de energia. O vórtice à sua frente solidificou-se em uma cena: o asfalto úmido, os penhascos, o oceano Pacífico tingido de laranja. Alex, em pânico, apertou o que achava ser o freio.
O chassi nu disparou para a frente, não pelo túnel, mas através dele.
Um instante depois, o ar era salgado e frio. Ele estava parado no acostamento da Pacific Coast Highway, o som das ondas preenchendo seus ouvidos. O pôr do sol era idêntico à sua memória. Mas os carros que passavam eram estranhos—veículos aerodinâmicos e silenciosos. Uma nave discreta pairou sobre a estrada, emitindo um feixe de luz que escaneou seu motor. Uma voz mecânica ecoou em seu crânio, não através dos ouvidos: “Veículo não identificado. Violação de protocolo de cronoviagem. Siga as coordenadas para contenção.”
Alex olhou para o motor, que agora parecia um coração alienígena pulsando em seu carro. Ele não havia construído um motor para ganhar corridas ou shows. Sem querer, havia construído uma máquina do tempo. E o “presente” para onde ele havia escapado era um futuro que não entendia, e que agora o via como uma anomalia perigosa.
Seu instinto de mecânico e piloto assumiu o controle. O medo deu lugar a um foco aguçado. Ele não tinha como lutar contra aquela tecnologia. Mas ele entendia a máquina dele. Suas mãos voaram sobre os cabos que ele mesmo havia conectado. Em vez de tentar desativar o Quantum-Drive (o que poderia deixá-lo preso ali), ele reprogramou rudimentarmente a sequência de ignição, misturando os comandos com a antiga central do carro. A ideia era não voltar para seu tempo, mas pular de novo. Sumir antes de ser capturado.
A nave emitiou um raio de força. Alex pisou no “acelerador”—agora um botão que ele havia reconectado.
O mundo dissolveu-se novamente. Desta vez, o vórtice foi caótico, instável. Ele viu flashes: a garagem vazia em seu tempo, uma estrada em um deserto de cristais, o vazio do espaço. O motor sobrecarregado começou a superaquecer.
Quando a realidade se solidificou novamente, estava em uma estrada de terra, sob um céu com duas luas. O ar era respirável, mas com um cheiro metálico. O motor do Quantum-Drive apagou-se com um chiado final, agora apenas um bloco de metal quente e inerte. O velho V8, a parte que ele verdadeiramente construiu, estava intacto.
Alex desceu do chassi, suas pernas trêmulas. Ele estava perdido, não apenas no espaço, mas no próprio tecido da existência. No entanto, ao seu redor, havia um cenário que qualquer mecânico reconheceria: montanhas de sucata. Sucata alienígena, brilhante e de formas impossíveis, mas sucata.




