Fantastic Forearms – Brogan, Michael Vegas – a fisting
Michael Vegas não era um homem de sorte; era um *arquiteto* dela. Em seu pequeno apartamento no último andar de um prédio antigo, ele ajustava fios invisíveis do acaso. Um encontro oportuno aqui, um objeto perdido ali. Não era magia, era matemática aplicada à probabilidade, uma ciência sutil que ele chamava de “Sincronicidade Dirigida”. Ele trabalhava para clientes discretos, cobrando favores, nunca dinheiro. Seu maior trunfo era um relógio de areia antigo, cujos grãos, dizia a lenda, eram fragmentos de estrelas cadentes. Ele media não o tempo, mas o momento exato para uma intervenção.
Seu trabalho mais recente era Brogan.
Brogan não era um cliente. Era um acidente. Um furacão humano de más decisões e raiva contida, com os nós de cordas no pulso e um olhar que desafiava o mundo a piorar sua sorte. Ele estava destinado a, naquela tarde, ser atingido por um ônibus na Avenida Meridional. Um ponto final absurdo e sem glória.
Michael, observando seus cálculos em um monitor cheio de algoritmos, viu a linha da vida de Brogan se esvair como fumaça. E algo nele — não compaixão, mas um puro, insolente desacordo com o desperdício — se revoltou. Interferir sem contrato era a primeira regra quebrada. A segunda foi usar o Relógio de Areia para algo maior do que um simples ajuste.
No momento exato, Michael não desviou o ônibus. Em vez disso, fez Brogan tropeçar no cadarço desamarrado — um cadarço que Michael, minutos antes, pagara a um garoto para desamarrar. Brogan caiu de cara no asfalto, rachando um dente, bem quando o ônibus passou sibilando a centímetros de sua cabeça.
O problema com salvar uma vida sem permissão é que você se torna responsável por seu equilíbrio. E Brogan, agora com um dente quebrado e mais raiva do que nunca, era uma anomalia caótica no tecido ordenado de Michael. Cada vez que Brogan se aproximava de outro desastre (uma briga de bar, um negócio fraudulento, um telhado escorregadio), Michael era forçado a intervir de maneira cada vez mais elaborada: um copo derramado que distraía, um alarme de carro que soava no instante crucial, um estranho dando um conselho incrivelmente específico.
Brogan começou a notar. Percebeu os fios. E, ao contrário do que Michael esperava — gratidão —, Brogan ficou furioso. Ele não queria ser um peão salvo. Sua raiva era a única coisa que ele considerava verdadeiramente sua.
A confrontação final ocorreu no apartamento de Michael. Brogan arrombou a porta, encontrando o homem entre telas brilhantes e o relógio de areia pulsando com uma luz suave.
“Você está brincando comigo”, rosnou Brogan, segurando um canivete.
“Estou consertando você”, retrucou Michael, frio, mas com as mãos suando. “Sua probabilidade de sobrevivência era zero.”
“Minha vida não é sua para consertar!” gritou Brogan, avançando.
Na luta, o Relógio de Areia caiu da estante. Michael, em um ato de puro instinto, não se jogou para salvar o artefato precioso, mas para empurrar Brogan para longe dos cacos de vidro e da areia cósmica que começava a vazar, brilhando perigosamente.
O vidro cortou o braço de Michael. Brogan, imóvel, viu o homem que o perseguia salvá-lo… de novo. E viu a areia estelar perder seu brilho, tornando-se pó comum no chão de madeira. O poder de Michael estava quebrado.
O silêncio que se seguiu foi mais espesso que a poeira.
“Por quê?”, sussurrou Brogan, o canivete pendendo inútil ao seu lado. “Você perdeu tudo.”
Michael, pressionando o corte, olhou para ele. “Porque você é um cálculo que deu errado. Uma variável teimosa. Mas uma variável *livre*. E isso… tem um valor que meu relógio não media.”
Brogan não se tornou um homem bom de uma hora para outra. A raiva ainda queimava em seu peito. Mas agora havia uma dúvida, um pequeno espaço vazio onde antes havia apenas certeza destrutiva. Ele estendeu a mão — não para atacar, mas para ajudar Michael a se levantar.
Michael Vegas, o arquiteto da sorte, agora era apenas um homem com um braço cortado e um apartamento bagunçado. Mas, ao olhar para Brogan, viu algo novo nos cálculos de seus olhos: não uma linha de vida restaurada, mas uma bifurcada. Imprevisível.
“O que fazemos agora?”, perguntou Brogan, olhando para o pó no chão.
Michael respirou fundo, sentindo o peso da liberdade — a dele e a de Brogan — pela primeira vez.
“Agora”, disse Michael, “improvisamos.”




