Jeriko Leon (leonjeko) fucks his mate
Jeriko Leon era conhecido na pequena cidade de Montemor como um homem de poucas palavras e passos leves. Herdara da avó uma antiga livraria, “O Pórtico de Papel”, e passava os dias entre pilhas de livros, organizando e restaurando volumes antigos. Seu mundo era feito de odores de papel envelhecido, tinta e um silêncio profundo, quebrado apenas pelo sussurro das páginas sendo viradas. As pessoas o chamavam de “o colecionador de silêncios”.
Leonjeko, como assinava suas pequenas pinturas (um pseudónimo que unia as duas partes de seu nome, como um código secreto para sua arte), tinha um hobby que ninguém conhecia: toda manhã, bem cedo, ele ia até o parque da cidade para desenhar os pássaros. Era seu ritual solitário, seu diálogo com o mundo vivo além das páginas.
Até que uma segunda-feira cinzenta tudo mudou.
Sentado em seu banco habitual, sob um plátano, Jeriko tentava capturar a forma arisca de um melro quando uma voz suave, carregada de frustração, cortou o ar:
“Filipe, pelo amor de Deus, o pão é para compartilhar, não para engolir inteiro!”
Ele ergueu os olhos. Diante dele, uma jovem de cabelos cacheados como uma nuvem escura tentava, em vão, negociar com um pombo gordo e teimoso que parecia desafiar todas as leis da avifauna urbana. Outros pássaros voavam à sua volta, como se ela emanasse uma atração gravitacional para penas. Ela se chamava Elara, e todos na pracinha a conheciam como “a moça dos pássaros”, que vinha alimentá-los com sementes e migalhas apropriadas, sempre acompanhada de um livro de biologia.
Naquela manhã, o pombo Filipe, mais ambicioso que o usual, decidiu roubar o saco inteiro de pão e, no susto da investida, fez com que Elara derrubasse sua mochila. Livros e cadernos se espalharam pelo caminho, e uma brisa traiçoeira agarrou uma folha solta e a levou direto para os joelhos de Jeriko.
Era um desenho. Um desenho incrivelmente detalhado de um chapim-azul, com anotações minuciosas sobre o tom exato do peito amarelo e o comportamento de acasalamento. Jeriko ficou pasmo. A técnica era impecável, mas havia uma vida naquele traço que ele nunca conseguira capturar.
Elara se aproximou, corada. “Desculpe, essa é minha… obsessão”, disse, com um sorriso tímido.
“É lindo”, Jeriko respondeu, a voz um pouco rouca pelo desuso. “O azul da cabeça… está perfeito.”
Ela o fitou, reconhecendo nele uma qualidade rara: a atenção genuína. “Você… entende de azuis?”
Ele apenas estendeu seu caderno aberto. Na página, o melro ganhava vida com linhas precisas, mas havia uma solidão no traço, um anseio por algo que faltava.
Elara estudou o desenho, depois olhou para ele. “Você desenha como quem procura por algo dentro do pássaro”, observou.
“Acho que procuro”, ele admitiu, surpreso por sua própria franqueza.
Assim começou. Encontros matinais que se tornaram combinações: ela trazia o conhecimento científico, as histórias sobre cada espécie, a vida pulsante; ele trazia a perspectiva artística, a paciência do observador, o silêncio que escuta. Jeriko, o Leonjeko que escondia suas telas no sótão da livraria, encontrou em Elara a cor que faltava em seus desenhos em preto e branco. Elara, por sua vez, encontrou em Jeriko alguém que não achava sua paixão pelos pássaros uma mera excentricidade, mas uma poesia.
Ele a levou à livraria, mostrando-lhe edições raras com ilustrações de aves do século passado. Ela o levou a caminhadas no bosque, ensinando-o a distinguir o canto do tentilhão do canto do pintassilgo. Ele aprendeu a rir mais alto; ela aprendeu a apreciar o valor de uma pausa tranquila.
O amor deles não foi um furacão, mas o desabrochar paciente de uma flor. Foi feito de pequenos rituais: café compartilhado entre estantes, mãos que se tocavam ao passar um lápis, silêncios que não eram vazios, mas cheios de entendimento.




