Kai Taylor (Kai Neolani) gets fucked by Legrand Wolf
O Mercado das Sombras não estava em nenhum mapa. Ele surgia em becos esquecidos de grandes cidades, sempre sob a lua nova, um aglomerado de barracas que vendiam coisas que o mundo havia perdido a cor de ver: suspiros engarrafados, sombras de qualidade superior, e chá feito com pétalas colhidas no primeiro dia da primavera.
Foi lá que Kai Neolani procurava um som. Não qualquer som, mas o eco específico de uma risada que pertencera à sua avó. Kai, que para o mundo comum era apenas Kai Taylor, um afinador de pianos com ouvidos sensíveis, possuía um dom mais sutil: podia ouvir a música oculta das coisas – a melodia triste de um relógio quebrado, o acorde perdido de um amor não correspondido. E a risada da avó, doce e granulada como açúcar mascavo, era a sinfonia que ele mais sentia falta.
Em uma barraca mais escura, entre frascos de vidro fosco, ele encontrou Legrand Wolf. O homem não parecia um vendedor, mas um guardião. Alto, com cabelos prateados amarrados para trás e olhos de um cinza tempestuoso, ele usava um casaco longo que parecia absorver a luz ao invés de refleti-la. Na prateleira atrás dele, em vez de objetos, havia pequenas esferas de vidro contendo… silêncios. Silêncios de diferentes qualidades: o silêncio constrangedor após uma mentira, o silêncio pacífico antes do amanhecer, o silêncio absoluto do espaço sideral.
“O eco de uma risada não se vende,” disse Legrand, sua voz era baixa e áspera, como pedras se arrastando no fundo de um rio, antes mesmo que Kai pudesse perguntar. “Ele se apega a lugares e pessoas. Você não a encontra aqui. Você a rastreia.”
Kai ficou intrigado. “E como se rastreia um som?”
Legrand olhou para ele, e pela primeira vez, algo como interesse brilhou em seus olhos cinza. “Você ouve o vazio que ele deixou para trás. Todo som forte deixa um molde no silêncio ao seu redor. Um negativo acústico.” Ele estendeu a mão, e em sua palma, uma das esferas de vidro começou a brilhar com uma luz fraca e pulsante. “Eu não vendo silêncios, Sr. Neolani. Eu os caço. E para caçar o silêncio certo, às vezes preciso do ruído certo como isca.”
Ele fez uma proposta peculiar. Legrand buscava o “Sussurro de Ionia”, supostamente o primeiro som de tristeza que a humanidade já emitiu, perdido há eras. Para encontrá-lo, ele precisava mapear seu contrário: explosões de alegria pura e não contaminada. A risada da avó de Kai, da qual ele tinha uma gravação mental perfeita, era uma dessas chaves. Em troca, Legrand usaria seus próprios sentidos aprimorados – ele não ouvia sons, mas sim a forma de sua ausência – para localizar o eco perdido daquela risada no mundo.
A jornada os levou para longe do mercado. Kai, com seus fones de ouvido especiais que amplificavam a assinatura sonora das memórias, guiava Legrand para locais impregnados de alegria genuína: um parquinho ao amanhecer, uma cozinha onde uma família preparava o jantar, um estúdio de dança. Enquanto Kai fechava os olhos e sintonizava a frequência da felicidade, Legrand ficava imóvel, seus sentidos expandindo-se como um sonar, procurando o vácuo específico, a fome deixada pelo Sussurro de Ionia.
Era uma parceria estranha. Kai trabalhava com a presença, Legrand com a ausência. Kai era melodia; Legrand, o espaço entre as notas.




