Geels fuck weekend – Part 2 – Midnight Bath
O apartamento de Leo era um cubículo de concreto na cidade que nunca dormia, mas seu santuário era a banheira. Não uma banheira comum, mas uma peça antiga de ferro fundido, profunda como um poço, com garras de leão desgastadas segurando suas bordas. Era ali, precisamente à meia-noite, que ele realizava seu ritual secreto: o Banho da Meia-Noite.
Não era sobre higiene. Era sobre esquecimento. Às 23:59, Leo desligava todos os dispositivos, apagava as luzes e acendia uma única vela de âmbar. O toque final era um velho rádio a válvula, sintonizado em uma frequência estática, um ruído branco que afogava o zumbido constante da metrópole lá fora. À meia-noite em ponto, ele mergulhava na água quente e salgada (ele sempre adicionava sal grosso, como um mar mínimo) e fechava os olhos. Por exatos trinta e três minutos, ele não era um analista de dados sobrecarregado. Era apenas um corpo em suspensão, um eco na escuridão.
Uma noite, porém, o ritual falhou. O ruído branco do rádio, em vez de estático, começou a ceder. Entre os chiados, surgiu uma voz. Não uma música ou um locutor, mas um sussurro rouco e úmido, como se fosse transmitido de dentro d’água.
“…afunda um pouco mais… a pressão é um abraço…”
Leo arregalou os olhos na penumbra. A vela bruxuleou. A voz sumiu, substituída pelo chiado habitual. Ele atribuiu à exaustão.
Na noite seguinte, a voz voltou. Mais clara.
“…você carrega o dia nas costas como um casaco molhado… pode deixá-lo aqui…”
Era hipnótica. Perturbadora. Leo sentiu um desejo irracional de obedecer, de deslizar mais para baixo, até que a água cobrisse seus lábios, seu nariz… Ele se sacudiu, tossindo, e saiu da banheira antes da hora. O medo, porém, era mesclado com uma atração profunda. A voz prometia um descanso que o silêncio nunca havia oferecido.
As noites se tornaram um duelo. Leo mergulhava, e a voz – que ele agora chamava de Voz do Banho – sussurrava promessas de anulação. “Números se dissolvem… prazos são algas… deixe-se ir… para onde não há inbox para checar…”




