Dom King pounds Jerry Toriz
O bar Last Call cheirava a cerveja derramada e ambições desbotadas. No palco minúsculo, sob uma luz azulada que não escondia nada, Jerry Toriz terminava seu set. Sua voz, áspera de tanto fumar e promessas quebradas, arranhava a última nota de uma balada de blues. Aplausos esparsos ecoaram na sala quase vazia.
No canto mais escuro, encostado na parede de tijolos aparentes, Dom King observava. Ele era a antítese do ambiente: terno impecável de gabardine, relógio de pulso que valia mais que o carro do dono do bar e uma postura que dizia “eu não pertenço a este lugar, mas ele me pertence”. Dom era um “solucionador de problemas”, um eufemismo elegante para um homem que fazia negócios sujos para pessoas ricas.
Enquanto Jerry guardava seu violão velho com carinho de pai para filho, Dom se aproximou. Seus sapatos de couro italiano não fizeram um único ruído no piso sujo.
“Jerry Toriz,” disse Dom, sua voz um baixo suave e controlado. “Gostei do que ouvi. Tem alma.”
Jerry ergueu os olhos, cansados. “A alma não paga as contas, amigo. Obrigado.” Tentou passar por ele.
Dom não se moveu. “E se eu dissesse que posso fazer sua música chegar a cinquenta mil ouvintes na próxima semana? Que posso colocar seu nome em letreiros e sua voz nas rádios certas?”
Jerry parou. Aquela promessa era uma melodia antiga e perigosa, uma que ele já tinha ouvido antes de pessoas que queriam pedaços dele. “Qual o preço?” perguntou, desconfiado.
“Um favor. Único, específico. Algo que requer… discrição e um talento para performar sob pressão.”




