O silêncio na nave Andarilha era quebrado apenas pelo sussurro dos sistemas de suporte de vida e pelo som dos dedos de Angel Diaz percorrendo os painéis de controle. Ela era a engenheira-chefe, uma mulher de lógica e aço, cuja fé estava nos manuais de reparo e nas leis da física. Do outro lado da cabine, Marco Star ajustava a câmera de longo alcance, seu rosto iluminado pelo brilho de uma nebulosa distante. Ele era o astrônomo e documentarista da missão, um sonhador que via poesia em cada poeira cósmica.
— Relatório do dia 247 — sua voz era suave, quase cantada, dirigindo-se à sua câmera. — A Nebulosa de Lyra revela seus segredos em tons de violeta e dourado. É como observar a respiração de Deus.
Angel suspirou, virando-se em sua cadeira.
— É plasma superaquecido e poeira interestelar, Marco. E nosso filtro de partículas está entupido de novo. Sua ‘respiração de Deus’ está prestes a fritar nossos sistemas.
Ele sorriu, sem desviar os olhos da cena.
— Não negue a beleza, Angel. Até um filtro entupido faz parte da dança cósmica.
Era sempre assim. Ela, com os pés firmes na realidade técnica da nave; ele, com a cabeça nas estrelas. Eles eram opostos que se toleravam por necessidade, orbitando um ao outro no espaço confinado da Andarilha.
Até que o alarme soou.
Um som agudo e urgente que cortou o ar como uma faca. A nave tremeu violentamente. As luzes piscaram no modo de emergência, banhando a cabine em um vermelho sinistro.
