A fuck with the delivery man – Matheus Silva

Todas as manhãs, o mesmo ritual. **Matheus Silva** pegava o ônibus das 7h15, sentava-se sempre no mesmo lugar, perto da janela, e abria um livro. Era um homem de hábitos silenciosos, um marceneiro cujas mãos, calejadas por lidar com a aspereza da madeira, tinham uma delicadeza surpreendente para virar as páginas frágeis.

Sua vida era um móvel bem feito: sólida, útil e previsível.

Até que uma segunda-feira de chuva entrou no ônibus, na forma de uma mulher apressada, segurando uma xícara de café e uma bolsa cheia de livros de arte. Ela escorregou no degrau molhado, e o café voou, pintando a camisa limpa de Matheus de marrom.

O desculpe foi um turbilhão de palavras. “Meu Deus, eu sinto muito, eu… a tampa falhou, a chuva, eu…”

Matheus olhou para a mancha, depois para o rosto dela, com seus olhos verdes cheios de horror e seus cachos desobedientes escapando do coque. E, pela primeira vez em anos, ele quebrou sua rotina de silêncio.

“Faz parte do plano da segunda-feira,” ele disse, com um sorriso tímido. “Um pouco de drama antes das oito da manhã.”

O alívio no rosto dela foi como o sol saindo de trás das nuvens. Ela se apresentou como Clara. Naqueles dez minutos de viagem, eles falaram sobre livros, sobre a violência da chuva e a doçura do café – mesmo quando derramado.

O encontro tornou-se diário. Clara era uma professora de artes, um furacão de cores e ideias. Ela trouxe para a vida de Matheus o caos que faltava. Ele, por sua vez, mostrou a ela a beleza da paciência, presenteando-a, semanas depois, com uma pequena estante que ele mesmo fizera para seus pesados livros de arte. Na madeira maciça, ele havia entalhado delicadas flores.

“É linda, Matheus,” ela sussurrou, emocionada.

“Madeira bruta pode se transformar em algo que abriga beleza,” ele explicou, suas mãos calejadas segurando as dela. “É só saber onde suavizar as arestas.”

Clara olhou para ele, para a estante, para a mancha de café que nunca saiu completamente da camisa que ele ainda usava, como um troféu.

“Você não é apenas **Matheus Silva**,” ela disse, seu coração batendo forte. “Você é o homem que transforma acidentes em começos.”

E naquele momento, dentro da oficina cheirando a pinho, Matheus entendeu que sua vida não precisava ser apenas sólida e útil. Podia ser, acima de tudo, lindamente inesperada.