Andrei Karenin, Enrique Vera, Serge Cavalli – a threesome
O salão de Serge Cavalli era um templo de ilusão. Espelhos de cristal, lustres de Murano e um exército de estilistas transformavam a elite de Moscou em versões impecáveis de si mesmos. Andrei Karenin, herdeiro de uma fortuna do gás natural, era um cliente habitual. Sua vida era uma performance contínua, suas emoções, um arquivo morto trancado a sete chaves. Serge, o mágico por trás das cortinas, conhecia cada fio de cabelo prateado de Andrei, mas nunca havia visto o homem por trás do mármore.
Tudo mudou no dia em que Enrique Vera entrou no salão.
Enrique não era um cliente. Era um músico espanhol, contratado para tocar violão no coquetel de um hotel vizinho. Ele chegou encharcado pela chuva, procurando abrigo, com sua caixa de instrumento nas costas e um sorriso que desafiava o cinza do exterior. Seus olhos, cheios de fogo e melodia, encontraram os de Andrei no espelho.
Enquanto Serge trabalhava com sua tesoura, criando simetria perfeita, Enrique aproximou-se, ignorando completamente a atmosfera de reverência.
— Sua postura está tão rígida — disse ele, em um russo carregado de um sotaque sensual. — Parece que está segurando o peso do mundo nos ombros. A música pode ajudar com isso.
Antes que Andrei ou Serge pudessem reagir, Enrique tirou o violão e dedilhou alguns acordes de um fandango. O som, quente e orgânico, rachou a superfície gelada do salão.
Serge observou, paralisado. Ele, que controlava cada detalhe estético, foi pego de surpresa por aquela invasão de vida. E viu algo ainda mais chocante: os olhos de Andrei, sempre distantes, fixos no músico, despertos.
