Alfie and Josh Moore – rimming on the boat
Alfie era um furacão de fios desencapados e palavras mal costuradas. Ele colecionava histórias da maneira como outras pessoas colecionam poeira – em cada esquina, em cada olhar, em cada ônibus que pegava. Escrevia em cadernos de capa mole, em guardanapos, na própria pele às vezes. Seu apartamento era um labirinto de livros empilhados e pilhas de papel, um caos criativo que só ele entendia.
Josh Moore era silêncio e ordem. Ele era um encadernador, um artesão que transformava páginas soltas e frágeis em objetos duráveis, belos e organizados. Sua loja, “Moore Pages”, cheirava a cola quente, couro envelhecido e tranquilidade. Cada movimento seu era preciso, cada dobra, perfeita. Ele dava nova vida a coisas quebradas, mas mantendo uma distância segura do conteúdo emocional que elas carregavam.
Seus mundos se colidiram quando Alfie, em um acesso de desespero, entrou na “Moore Pages” com um caderno que estava literalmente despedaçando-se. Era seu diário de um ano, cheio de rabiscos, manchas de café e a alma completamente exposta.
“Precisa de um milagre,” Alfie disse, entregando o amontoado de páginas soltas e capa manchada a Josh, suas mãos tremendo levemente.
Josh pegou o caderno com o cuidado de quem manuseia um artefato antigo. Seus dedos longos e calmos examinaram os danos. Ele olhou para a escrita frenética de Alfie, para os desenhos nas margens, para a vida transbordando daquelas páginas.
“É possível,” Josh disse, sua voz um acalento após o tom agitado de Alfie. “Mas vai levar tempo. A estrutura tem que ser forte o suficiente para conter… tudo isso.” Ele gesticulou levemente para o caderno.
Alfie tornou-se uma visita constante na loja. Ele ia para “ver o progresso”, mas ficava horas sentado no canto, observando Josh trabalhar. Ele falava. Sobre a mulher do parque que alimentava os pombos com nomes, sobre o som da chuva no telhado de zinco, sobre o medo de que suas histórias se perdessem um dia.
Josh, principalmente, ouvia. Ele remendava, colava, criava uma nova capa de couro macio. E, aos poucos, começou a responder. Falou sobre como o silêncio da loja às vezes era muito alto, sobre o pai que lhe ensinou o ofício, sobre o medo de que sua própria vida fosse tão perfeita e organizada quanto as capas que criava – e tão vazia por dentro.
Alfie trouxe o caos para a ordem de Josh. Trouxe risadas altas, xícaras de chá esquecidas em cima de livros raros, e histórias que enchiam os cantos silenciosos da loja. Josh, por sua vez, deu a Alfie um porto seguro. Ensinou-lhe a respirar, a encontrar uma estrutura para seu talento sem apagá-lo. Deu solidez às suas asas.
Quando o caderno ficou pronto, era uma obra de arte. A capa de couro marrom-escuro era simples, mas lindamente trabalhada. As páginas, antes soltas, agora formavam um volume sólido e respeitável. Era forte o suficiente para conter o furacão.
Alfie pegou-o com lágrimas nos olhos. “Está perfeito.”
“Um bom contêiner deve ser tão bonito quanto o que guarda,” Josh disse, baixando a guarda o suficiente para que Alfie visse o afeto em seus olhos.
No dia seguinte, Alfie voltou. Ele não trouxe um livro para consertar. Trouxe um caderno novo, em branco.
“Eu… eu comecei uma nova história,” ele disse, nervoso. “E eu não quero escrevê-la em qualquer lugar. Eu quero escrevê-la aqui. Perto de você.”
Josh olhou para o caderno em branco, depois para o rosto aberto e esperançoso de Alfie. Ele estendeu a mão, não pelo caderno, mas para segurar a mão de Alfie. Seus dedos calmos e fortes se entrelaçaram com os dedos inquietos e cheios de tinta do escritor.
“O ateliê fecha em meia hora,” Josh sussurrou, seu polegar acariciando o dorso da mão de Alfie. “E eu conheço um lugar que serve um café horrível, mas tem ótimas histórias.”
E naquele toque, Alfie entendeu que havia encontrado o seu melhor contêiner. Não era de couro ou papel, mas de silêncio e paciência. E Josh entendeu que havia encontrado a história mais bonita que jamais encadernaria – uma que estava apenas começando.




