Hairy Uncut Fucking And Pissing – Igor Lucios, Milo Galician
Igor Lucios era um colecionador de silêncios. Ele os catalogava em cadernos de capa dura, com letra minuciosa. Havia o silêncio da biblioteca municipal às 4 da tarde, pesado e empoeirado. O silêncio do apartamento após desligar a TV, agudo e solitário. E o seu preferido: o silêncio do planetário às quartas-feiras, quando o último visitante ia embora e apenas as projeções das estrelas sussurravam no teto abobadado.
Foi em uma dessas quartas-feiras que o seu silêncio foi quebrado.
“Essa constelação está um pouco otimista, não acha? O Cefeu nunca foi tão bem definido assim.”
Igor piscou, afastando-se da visão de Andrômeda. Um homem vestindo um casaco de lã verde-esmeralda, com um cachecol listrado de forma desordenada, observava o teto com uma expressão de divertido ceticismo.
“Desculpe?” foi tudo que Igor conseguiu articular.
“O projetor é antigo. Exagera nas conexões. No céu real, Cefeu é mais… tímido. Sou Milo, aliás. Milo Galician.” Ele estendeu a mão, e seu sorriso era como um clarão no crepúsculo cuidadosamente curado de Igor.
Milo Galician era astrônomo, mas não do tipo de jaleco branco e telescópios gigantes. Ele era um “observador de céu livre”, como gostava de dizer. Guiava turistas para colinas afastadas, ensinando-lhes a ler a carta celeste com os próprios dedos. Ele trazia o cheiro do vento e o frio da noite para o ambiente climatizado do planetário.
Igor, um arquivista cuja vida era regida por ordem e previsibilidade, sentiu-se como um cometa desgarrado sendo puxado para uma órbita nova e caótica. Milo não respeitava silêncios. Ele os preenchia com histórias: sobre a mitologia por trás de Órion, sobre a vez que viu uma raposa durante uma sessão de observação, sobre o sabor do chocolate quente depois de passar a noite no frio.
Contra toda a sua lógica, Igor deixou-se levar. Aceitou o convite para uma verdadeira sessão de observação, longe da cidade. Deitado no capô do carro velho de Milo, envolto em um cobertor, ele viu o céu de Milo pela primeira vez. Não era uma projeção perfeita e silenciosa. Era um turbilhão de luzes cintilantes, um caos magnífico e vivo. O silêncio daquela colina não era um que ele pudesse colecionar; era um silêncio que se sentia, vasto e um pouco assustador.
“É lindo,” sussurrou Igor, e a palavra pareceu insignificante.
“É casa,” respondeu Milo, seu ombro quente pressionando o de Igor.
Os mundos deles colidiram. As prateleiras meticulosas de Igor agora abrigavam pedras peculiares que Milo trazia de suas expedições. O carro bagunçado de Milo tinha, no porta-luvas, um dos cadernos de silêncios de Igor, “para caso eu sinta saudades da sua voz”, como Milo dizia. Igor aprendeu a desconfiar das previsões meteorológicas e a confiar na intuição de Milo para as nuvens. Milo, por sua vez, aprendeu o valor de um silêncio compartilhado, da paz que vinha de ver Igor concentrado, organizando suas coisas.




