Threeway Play – Austin Walker, CJ Parker, Silas Brooks
O “Mar Azul” não era azul, e mal dava para ver o mar. O bar era um cubículo escuro e enfumaçado no cais, cheirando a cerveja derramada e água salgada. Era ali que Austin Walker desabava depois de dez horas soldando placas de aço no estaleiro, as mãos ainda tremendo do ronco constante das máquinas. Ele era um farol de quietude, seu corpo forte uma fortaleza de silêncio, seus segredos guardados a sete chaves sob uma capa de suor e cansaço.
Tudo mudou na noite em que CJ Parker entrou no bar como um furacão dourado.
CJ era um salva-vidas. Era impossível não notá-lo. Seus cabelos lojos ao sol, seu sorriso era um convite aberto, e sua energia preenchia o lugar como se alguém tivesse ligado todas as luzes de repente. Ele chegou com um grupo de amigos, rindo alto, contando uma história sobre um tubarão-enfermeiro que assustou os banhistas. Sua alegria era tão palpável que Austin sentiu uma pontada de inveja no peito.
E então, houve Silas Brooks.
Silas era o dono do “Mar Azul”. Um homem mais velho, quieto como Austin, mas com uma serenidade que vinha da aceitação, não da resistência. Seus olhos cinzentos viam tudo: a dor não dita de Austin, a luz despreocupada de CJ, e os fios invisíveis que o destino começava a tecer. Ele servia as bebidas em silêncio, um anfitrião discreto do palco da vida alheia.
Naquela noite, uma briga eclodiu perto do bar. Um cliente bêbado tropeçou no grupo de CJ e, em vez de se desculpar, ficou agressivo. Austin, por puro instinto, levantou-se. Ele não disse uma palavra, apenas se interpôs entre o homem e CJ, sua presença física imponente sendo argumento suficiente. O agressor recuou.
CJ olhou para Austin, o sorriso substituído por uma surpresa genuína. “Obrigado”, ele disse, sua voz um pouco mais suave. “Ninguém nunca fez isso por mim.”
Austin apenas acenou com a cabeça, sentindo o calor do olhar de CJ como um toque físico. Quando se virou para voltar ao seu canto, seus olhos encontraram os de Silas atrás do bar. O homem mais velho deu um leve aceno de aprovação, quase imperceptível, como se dissesse: *”É assim que começa.”*
CJ, sendo CJ, não deixou barato. No dia seguinte, ele apareceu no estaleiro, trazendo dois cafés e um sanduíche. “Pensei que você poderia precisar de algo melhor que a comida do bar”, disse, seu sorriso desarmante. Austin, pego de surpresa, aceitou.
Aquele gesto simples tornou-se um ritual. CJ trazia o almoço, Austin começou a aparecer na praia no fim de seu turno, observando CJ trabalhar, seu corpo ágil cortando as ondas para um resgate. E no centro daquilo tudo, sempre o “Mar Azul” e Silas. O bar tornou-se seu ponto de encontro neutro. Silas era seu confidente silencioso. Ouvia CJ falar sobre seu medo de não ser levado a sério, e via Austin lutando para encontrar palavras para seus próprios demônios. Ele oferecia conselhos raros, mas sábios, servindo uísque e sabedoria na medida certa.
O amor entre Austin e CJ não foi um incêndio repentino, mas uma maré que lentamente inundou suas vidas. Foi construído em cafés compartilhados, em mãos que se encontraram sob a mesa do bar, no silêncio confortável que finalmente substituiu a solidão de Austin. Austin ensinou a CJ a força da quietude; CJ ensinou a Austin a coragem da vulnerabilidade.
E Silas Brooks assistiu a tudo. Ele era o arquiteto não celebrado daquela história, o guardião do espaço onde seu amor pôde florescer longe do sol e do suor do mundo. Na noite em que Austin e CJ se beijaram pela primeira vez, do lado de fora do bar, sob a luz fraca de um poste, foi para Silas que eles olharam ao entrarem, corados e deslumbrados.
Silas apenas sorriu, um sorriso raro e cheio de uma dor doce. Ele ergueu seu copo para eles, um brinde silencioso. Seu próprio amor era de um tipo diferente: não um rio que corre, mas um farol que permanece, feliz por ter ajudado a guiar dois corações perdidos para um porto seguro, um no outro. E para Austin e CJ, aquilo era mais que suficiente.
