Flip Fucking Hairy Daddies – Musclebear Montreal, Rob Montana
O inverno em Montreal era uma entidade sólida, uma presença de concreto gelado e neve suja. Rob Montana era um contraste com o ambiente. Alto, silencioso, com a serenidade das montanhas que seu sobrenome evocava, ele era um escultor que moldava a madeira com uma paciência que o mundo moderno havia esquecido. Seu estúdio, um loft em um prédio antigo, cheirava a pinho e verniz. Era um refúgio de ordem e linhas limpas.
Tudo mudou no dia em que o homem conhecido como Musclebear Montreal se mudou para o apartamento ao lado.
Musclebear – ou Marc, como poucos o chamavam – não se mudava, ele invadia. O som de suas caixas sendo arrastadas ecoou como um terremoto amigável pelo corredor. A primeira vez que Rob o viu, ficou sem fôlego. Marc era a antítese de sua própria existência: uma força da natureza em jeans apertado e jaqueta de couro, com uma barba espessa e um torso que desafiava a física da portas. Ele era um chef, um artista do barulho, do calor e dos temperos.
Os sons que agora vazavam através da parede eram uma sinfonia do caos: o rítmico *thump-thump-thump* de uma faca cortando vegetais, o estouro explosivo do azeite numa frigideira, o riso profundo e contagiente que fazia o próprio coração de Rob acelerar. Era intrusivo. Era irritante. Era a coisa mais viva que Rob experimentava em anos.
O primeiro contato foi uma briga por um pacote de entregas trocado. Rob, sério, segurando uma caixa de especiarias raras. Marc, com as mãos enfarinhadas e um cheiro divino de alho e alecrim saindo de seu apartamento.
“Parece que você tem minha pimenta Szechuan”, disse Rob, sua voz mais contida do que pretendia.
Marc olhou para a caixa, depois para Rob, e um sorriso lento abriu-se sob sua barba. “E parece que você tem meu kit de fermentação. Uma troca justa? Minha pimenta pela sua… paciência?”
Rob não conseguiu evitar um pequeno sorriso. Foi o suficiente.
A “trocA” se tornou uma desculpa. Marc aparecia com uma tigela de algo que cheirava ao paraíso, “apenas para testar”. Rob, em retribuição, esculpiu para ele uma colher de madeira de ébano, tão suave ao toque que parecia manteiga. Era a linguagem deles: Marc alimentava o corpo de Rob, Rob alimentava a alma de Marc.
Rob descobriu que por trás do urgano barulhento havia um homem de uma ternura desarmante. Marc contava histórias de sua avó italiana enquanto amassava massa, seus olhos marejados de saudade. E Marc descobriu que por trás da quietude de Rob havia uma intensidade vulcânica, um olhar que via a forma oculta dentro de um bloco de madeira – e, aparentemente, a forma oculta dentro do próprio Marc.
O beijo aconteceu numa noite de nevasca, com a cidade paralisada sob um cobertor branco. Rob tinha ido ao apartamento de Marc buscar um pouco do famoso ragu dele e ficou preso lá pela fúria da tempestade. O loft de Marc era quente, iluminado por luzes suaves e cheirava a tomate e manjericão. Estavam no sofá, bebendo vinho tinto, quando o silêncio – um silêncio diferente, carregado e elétrico – caiu entre eles.
Marc ergueu a mão e moveu um fio de cabelo grisalho da testa de Rob, seu toque era surpreendentemente gentil para mãos tão grandes.
“Eu sou muito barulhento para você, não sou?”, sussurrou Marc, sua voz um rosnado baixo.
“Insuportavelmente”, Rob respondeu, fechando a distância entre eles.




