Caio Pernalonga and Marcos Goiano fuck
O Mercado Municipal cheirava a orégano, pimenta e cantoria. Em uma banca pequena, mas famosa, Marcos Goiano empilhava abóboras com mãos que conheciam o peso exato da terra. Seu sorriso era largo e fácil, e seu sotaque carregado contava histórias do interior de Goiás, de plantações de sol a pino e noites estreladas. Ele era raiz, firme e constante.
Na banca ao lado, o caos tinha nome, endereço e um bigode que era uma obra-prima da anatomia. Caio Pernalonga, neto do fundador da “Pernalonga Temperos & Afins”, era um furacão de entregas. Ele girava entre clientes, gesticulava, contava piadas ruins e sempre, *sempre*, derrubava um pacote de alguma coisa. Seu apelido era inevitável, e ele o abraçava com ares de dono de circo.
— Ói, seu Marcos! Tá precisando de uma pimenta dessa aqui pra esquentar o sangue! — gritou Caio, balançando um vidro de pimenta malagueta perto do rosto impassível de Marcos.
— Meu sangue já é quente, seu Caio. É do cerrado, — respondeu Marcos, sem levantar os olhos da arrumação dos tomates, mas com um canto de sorriso no rosto.
Aquelas provocações eram a trilha sonora dos seus dias. Marcos, quieto em sua banca organizada, observava aquele homem-elástico com uma mistura de exasperação e uma curiosidade profunda. Caio era tudo o que ele não era: barulhento, imprevisível, completamente à vontade na bagunça da cidade grande.
A atração cresceu no ritmo das provocações diárias. Marcos começou a levar um café extra para Caio nas manhãs frias. Caio, em troca, “esquecia” pacotes de seus temperos especiais na banca de Marcos. Era um tango silencioso de tupperwares e olhares prolongados.
O conflito veio de forma simples. Um fiscal da prefeitura, carrancudo, chegou para inspecionar as bancas. A documentação de Caio era uma confusão criativa. Vendo o desespero mascarado no rosto do vizinho, Marcos se aproximou.
— Deixa comigo, — disse ele, sua voz calma como a terra molhada.
Com uma paciência infinita, ele organizou os papéis de Caio, falou com o fiscal com uma autoridade tranquila e resolveu a situação. Caio observou, maravilhado e um pouco envergonhado. Aquele homem quieto era uma fortaleza.
Naquela noite, depois que o mercado fechou e o silêncio tomou conta dos corredores escuros, Caio encontrou Marcos arrumando sua picape.
— Obrigado, Marcos, — disse Caio, a voz mais baixa do que o normal. — Eu… eu sou meio desastre.
Marcos fechou a porta da picape e se virou. Seus olhos, sob a luz fraca do poste, pareciam serenos e profundos.
— Não é desastre, não, — corrigiu Marcos. — É tempestade. E tempestade é boa. Ela balança a terra, leva o que tá velho e prepara o terreno pra coisa nova.
O ar entre eles pareceu parar. O barulho da cidade sumiu.
— E prepara pra quê? — sussurrou Caio, seu coração batendo como os tambores de um samba.
— Pra plantar, — respondeu Marcos, simples e direto.
E foi assim, entre o cheiro de manjericão e cimento, que o furacão encontrou seu centro. Caio Pernalonga, que nunca parava, descobriu o que era se sentir enraizado. E Marcos Goiano, que sempre esteve com os pés no chão, descobriu a alegria de ser um pouco varrido pela tempestade. O beijo deles foi doce, temperado com pimenta e o gosto de um novo começo.




