Really Hungry Ass – Part I – Bruno_CABA95, Cuban_DY
A vida de Bruno, ou @Bruno_CABA95, como era conhecido online, era um reflexo perfeito de seu username: um arquiteto metódico, filho de Buenos Aires, que encontrava conforto na grade previsível das ruas da capital. Sua existência era medida em linhas retas, horários de reunião e apps de namoro que nunca levavam a lugar algum.
Foi em um desses apps que ele esbarrou com @Cuban_DY.
A foto de perfil era de um homem sorridente, com o mar ao fundo, segurando um violão como se fosse uma extensão do seu corpo. A bio era simples: “Músico. Cheguei de Havana com um violão e um sonho. O sonho sobrevive.”
A primeira mensagem de Bruno foi cautelosa: “CABA95? Sou eu. E DY?”
A resposta veio rápida, acompanhada de um áudio de violão: “David Yero. Mas pode chamar de David. O ‘Cuban’ é só para marketing.”
David era um furacão de salsa, rum caseiro e risada fácil. Ele desarrumou a vida arrumada de Bruno com a mesma naturalidade com que entrava em um ônibus sem saber o destino. Enquanto Bruno se preocupava com a hipoteca do apartamento, David se preocupava em encontrar a harmonia perfeita para uma nova música.
Os encontros eram um choque de culturas. Bruno levava David para conhecer os *bodegones* clássicos de San Telmo; David levava Bruno para dançar em festas de comunidade latina em parques, onde o cheiro de *mojo* e cigarro preenchia o ar. David ensinou Bruno a ouvir a melodia por trás do caos, e Bruno mostrou a David que até mesmo a arquitetura mais rígida tem seus segredos e histórias escondidas.
Uma noite, após um show íntimo de David em um bar pequeno, Bruno o encontrou nos fundos, com o violão no colo, olhando para a lua.
“O sonho ainda sobrevive?” Bruno perguntou, encostando no batente da porta.
David olhou para ele, e seu sorriso habitual deu lugar a uma expressão séria e vulnerável.
“Está sobrevivendo”, ele disse, sua voz um sussurro rouco. “Mas não é mais o mesmo sonho. O sonho agora tem um apartamento em Palermo, cheiro de café de manhã e um arquiteto que não sabe dançar, mas que tenta.”
Bruno sentiu algo se desfazer em seu peito, uma parede que ele nem sabia que havia construído. Ele se aproximou, tirou o violão suavemente das mãos de David e o colocou de lado.
“Eu não preciso do username ‘Cuban_DY'”, ele sussurrou, suas mãos encontrando as de David. “Só preciso do David. O resto é só… marketing.”
E quando se beijaram, naquela sala de armazenamento fria, Bruno entendeu que o amor não era sobre encontrar alguém do mesmo mapa, mas sobre estar disposto a se perder juntos em um território novo. O homem de Buenos Aires e o cubano haviam encontrado, um no outro, uma melodia que fazia sentido para ambos.




