Bernie Bagel gets spanked and jerked
Bernie Bagel era o sol do “Bom Trigo”, a padaria de bairro que herdou do avô. Seus dias começavam às 3h da manhã, envoltos no aroma hipnótico de fermento e farinha torrada. Seus braços eram fortes de amassar, seu coração era macio como um pão de leite acabado de sair do forno, e seu mundo era perfeitamente redondo e reconfortante como os seus bagels. Até que o mundo dele rachou.
A rachadura veio em forma de Anya, a nova proprietária da loja de chá da frente, “O Bule Prateado”. Ela era esbelta, séria, e cheirava a bergamota e coisas delicadas. Seus cabelos eram negros como o carvão decorativo dos *bialys* de Bernie, e ela organizava suas xícaras por ordem cromática, um crime aos olhos da beleza orgânica e desarrumada da padaria.
A primeira batalha foi travada na calçada.
“Desculpe,” disse Anya, com uma voz suave que não pedia desculpas. “Seu carrinho de bagels está bloqueando a fachada da minha loja. Afasta a energia positiva.”
Bernie, com as mãos enfarinhadas e o avental manchado, ficou perplexo. “Energia positiva? São *bagels*, dona Anya. Eles *são* energia positiva.”
Foi o início de uma guerra fria de bairro. Ela reclamava do barulho do misturador às 5h; ele tropeçava “acidentalmente” nas suas mesas de rua. Ele a chamava de “A Rainha do Chá Amarga”; ela o chamava de “O Bárbaro do Fermento”. Mas, nos bastidores, uma verdade inconveniente assomava: Bernie começou a notar a concentração feroz no rosto de Anya quando provava uma nova mistura de chá. E Anya descobriu que, secretamente, adorava o modo como Bernie dava um pão doce extra para as crianças do bairro, seu rosto sério iluminado por um sorriso que ela nunca via dirigido a ela.
O ponto de virada foi uma tempestade. Um temporal de verão que fez a energia cair em toda a rua. O “Bom Trigo” ficou às escuras, as masseiras silenciosas. Bernie, resignado, foi acender as velas de emergência quando viu Anya parada à sua porta, encharcada, segurando uma lanterna.
“Os meus *scones* de creme vão estragar no congelador,” ela disse, evitando o seu olhar. “Pensei que… que o seu forno a lenha ainda funcionasse.”
Bernie ficou em silêncio por um momento, observando a água escorrer pelos seus cabelos negros. Ele abriu a porta. “Entre.”
Na penumbra quente da padaria, o cheiro de lenha queimada misturou-se com o de chá de ervas que Anya insistiu em preparar num bule de campismo. Ele ensinou-lhe a modelar um *bagel*; as suas mãos delicadas eram desastradas sobre a massa, e ele riu, um som rouco e genuíno que ela nunca ouvira. Ela contou-lhe sobre a pressão de manter a loja da família, sobre o medo de falhar. A “Rainha do Chá Amarga” tinha medo. O “Bárbaro do Fermento” entendia perfeitamente.
Quando a energia voltou, a manhã já despontava. A guerra tinha acabado. No seu lugar, havia um silêncio cómplice e um prato de *bagels* ainda quentes, que Anya cobriu com o seu geléia de laranja-amarga caseira.
O primeiro beijo não foi na padaria nem na loja de chá. Foi na calçada que os separava, um território neutro agora conquistado. Sabia a manteiga derretida, a chá de earl grey e a um novo começo doce e salgado.
O bairro testemunhou o seu amor crescer. Viram Anya ajudar atrás do balcão nas manhãs movimentadas, um avental sobre o seu vestido impecável. Viram Bernie a provar infusões de chá com uma expressão de profunda concentração. O “Bom Trigo” e “O Bule Prateado” começaram a fazer promoções conjuntas: um *bagel* de tudo e uma chávena de chá de jasmim por um preço especial.
Descobriram que, por baixo das superfícies ásperas e das crostas duras, eles eram, no fundo, feitos da mesma coisa: do calor caseiro que alimenta uma alma. E Bernie Bagel, o padeiro, descobriu que o amor era a melhor coisa que já saiu do seu forno.




