Nostalgia and Gel fuck

Ela se chamava **Nostalgia**, mas todos a chamavam de **Nost**. Era uma restauradora de livros, uma arqueóloga do papel. Seus dias eram passados na penumbra silenciosa da biblioteca municipal, respirando o perfume do tempo preso nas páginas amareladas. Suas mãos, finas e precisas, curavam lombadas quebradas, colavam rasgos e devolviam a vida a histórias esquecidas. Ela vivia no passado, confortavelmente ancorada nas memórias alheias.

Ele era **Gel**. Apenas Gel. Um chef de *food truck* que era uma tempestade de sabores do presente. Seu veículo, “O Alquimista”, estacionava do lado de fora da biblioteca todas as tardes, enchendo o ar com o aroma ousado de especiarias asiáticas fusion e doces exóticos. Ele era barulhento, cheio de energia, e suas criações culinárias eram experiências sensoriais intensas e efêmeras.

Eles eram opostos que se observavam através de uma vitrine.

Nost via a fila no food truck e achava aquilo um caos. Gel olhava para as janelas sombrias da biblioteca e sentia uma claustrofobia suave.

O primeiro contato foi um acidente. Nost, com seus pensamentos nas páginas de um incunábulo do século XVI, derrubou uma xícara de chá em cima de um livro de receitas raras da biblioteca. O desespero a consumiu. As páginas manchadas, as anotações à mão borradas… era uma perda irreparável.

Sem saber o que fazer, ela pegou o livro e, com o coração aos pedaços, dirigiu-se ao food truck. A fila havia acabado. Gel estava limpando o balcão.

“Ele pode consertar qualquer coisa com comida”, as pessoas diziam. Era um tiro no escuro.

“Preciso de ajuda”, ela disse, sua voz um fio, mostrando o livro danificado.