Fucked and Fed – Arno Antino, I am Raj
						O vento soprava do mar, carregado do sal que grudava na pele e do aroma inconfundível de peixe fresco e gasóleo. O porto de pesca era o reino de Felipe, um homem cujas mãos calejadas contavam mais histórias do que qualquer livro. Seus dias começavam no escuro, ao som das gaivotas e do ronco dos motores, e terminavam com o sol se pondo sobre as pilhas de redes que ele consertava com uma paciência infinita. Era uma vida dura, simples, e ele acreditava ser completa.
Até que o “Fed” chegou.
Federico, ou Fed, como todos logo o apelidaram, era italiano. Tinha vindo de Nápoles para passar uma temporada, um *chef* renomado em busca dos segredos dos pescadores locais. Usava um avental imaculado sobre roupas simples, e seus gestos eram tão apaixonados e expansivos quanto os de Felipe eram contidos e metódicos.
O primeiro encontro foi um desastre.
“Esse não!” Felipe grunhiu, apontando para um polvo que Fed escolhera. “Está muito mole. É da semana passada.”
Fed, ofendido em sua alma italiana, argumentou com as mãos. “*Ma scusa*! Eu sei escolher um polvo! Para o *ragù*, ele precisa ser… *perfetto*!”
Felipe apenas pegou outro polvo, firme e brilhante, e estendeu-o a Fed. “Esse. Ou a sua comida vai ter gosto de arrependimento.”
Fed ficou intrigado. A rudeza do pescador era direta, sem rodeios. E ele, que estava acostumado a elogios e mesas de restaurante estreladas, viu algo de genuíno naquele homem que cheirava a mar e verdade.
O amor não nasceu num rompante. Nasceu no cais, ao amanhecer, enquanto Felipe ensinava Fed a escolher o peixe pelo brilho dos olhos e a firmeza da carne. Nasceu na cozinha improvisada de Fed, onde ele transformava a pesca do dia em pratos que faziam Felipe fechar os olhos e suspirar, descobrendo sabores que o mar, sozinho, nunca lhe tinha oferecido.
Era um contraste que se completava. A terra firme de Felipe e o vulcão de Fed. A paciência do pescador e a paixão explosiva do *chef*. Felipe aprendera a ler o céu e as ondas; Fed lia as pessoas pelos sabores que as comoviam.
A confissão aconteceu numa noite de temporal. O vento uivava e a chuva batia contra os vidros da pequena pensão de Fed. Felipe apareceu na porta, encharcado, segurando uma garrafa de vinho tinto e um linguado que havia pescado naquela manhã.
“Pensei que você poderia… querer companhia,” disse Felipe, sem conseguir olhar nos olhos de Fed.
Fed sorriu, um daqueles sorrisos que iluminavam o rosto todo. “Eu quero.”
				



