Corporate Uncaged – Drae Axtell, Ben Batemen, Viktor Rom
						O vento soprava frio nas ruas de pedra de Montévrain, mas dentro da pequena livraria “O Álibi”, o calor era acolhedor. Drae Axtell arrumava os livros na prateleira de poesia, seus dedos longos acariciando as lombadas desgastadas com uma familiaridade terna. Ela era a dona do lugar, uma mulher de sorriso quieto e olhos que guardavam histórias não contadas.
A campainha da porta tilintou. Drae olhou para cima e viu Ben Batemen entrar, sacudindo a neve dos ombros do casaco. Seu coração deu um pequeno salto, como sempre fazia. Ben era um escritor, ou pelo menos alguém que tentava sê-lo. Ele vinha à livraria todos os dias, ocupando a mesma poltrona perto da janela, fingindo escrever, mas passando a maior parte do tempo observando Drae.
“Frio lá fora,” Ben cumprimentou, sua voz um sussurro rouco que se misturava perfeitamente com o cheiro de papel envelhecido.
“Sempre há chocolate quente na garrafa térmica,” Drae respondeu, indicando o canto onde ela mantinha provisões para os clientes mais assíduos – ou seja, principalmente para Ben.
Era um ritual. Ele se sentava, ela continuava seu trabalho. Trocaram algumas palavras sobre um livro, uma poesia, o tempo. A atração entre eles era um fio tenso, invisível mas palpável, que nenhum dos dois tinha a coragem de puxar. O medo de estragar a quieta perfeição daqueles momentos os mantinha imóveis.
Até que Viktor Rom entrou na livraria.
Viktor não era como Ben. Ele era uma tempestade em forma de homem. Um pianista de jazz de passagem pela cidade, com um charme intenso e olhos que prometem aventuras perigosas. Ele viu Drae e, no espaço de um segundo, pareceu decidir que ela seria seu próximo solo improvisado.
“Encontrei o que procurava,” Viktor disse, seu sotaque estrangeiro envolvendo as palavras como fumaça de cigarro. Ele não estava olhando para os livros, mas para Drae.
Nos dias que se seguiram, Viktor tornou-se uma presença constante. Trouxe flores, convidou-a para ouvi-lo tocar no bar da cidade, encheu o silêncio da livraria com histórias de viagens e música. Drae sentiu-se atraída pela sua energia, pela vida que parecia irradiar dele. Era uma oferta de um mundo diferente, brilhante e barulhento.
Ben assistiu a tudo em silêncio, seu coração apertando-se em um punho cada vez que via Drae sorrir para Viktor. Suas palavras, que sempre fluíam tão facilmente no papel, travavam-se em sua garganta. Ele via Drae sendo levada pela correnteza de Viktor e sentia que estava a afogar-se.
Uma noite, depois de Viktor a ter levado para jantar e deixado na livraria com um beijo na mão que parecia queimar, Drae ficou sozinha, confusa. A emoção que Viktor oferecia era eletrizante, mas algo faltava. Havia uma paz, uma quietude que ela sentia na presença de Ben que era mais profunda do que qualquer emoção.
Ela foi até a poltrona dele, perto da janela. Havia um caderno esquecido no chão. Com o coração aos pulos, Drae abriu-o.
Não eram esboços de romances ou contos. Eram poemas. Página após página de poemas sobre ela. Sobre a curva do seu sorriso quando encontrava um livro raro, sobre a way que ela organizava as estantes, sobre a quietude que ela trazia para sua alma inquieta. Eram as palavras que Ben nunca conseguira dizer, derramadas em tinta azul, cheias de uma devoção tão íntima que fez Drae sentir que estava invadindo um santuário.
Naquele momento, a campainha da porta tilintou. Era Ben, ofegante.
“Esqueci o meu caderno,” ele disse, seus olhos encontrando os dela, cheios de pânico e vulnerabilidade.
Drae segurou o caderno contra o peito. “Ben… são lindos.”
Ele baixou a cabeça. “São apenas palavras. Palavras são baratas.”
“Não estas,” sussurrou Drae. “Estas não são.”
Ela colocou o caderno de lado e deu um passo em sua direção. O fio invisível entre eles finalmente se apertou, puxando-os um para o outro. O beijo deles não foi uma tempestade como os de Viktor prometiam ser. Foi o oposto. Foi um regresso a casa. Foi o silêncio confortável da livraria, o calor do chocolate quente, a promessa de uma história escrita a duas mãos, lenta e steady, página por página.
Viktor partiu na manhã seguinte, deixando para trás o eco de um solo não terminado. Drae e Ben ficaram. E na livraria “O Álibi”, entre as páginas de milhares de histórias, eles finalmente começaram a escrever a deles.
				



