Alurdun Finn and Andrew Delta flip fuck
O posto comercial na Fronteira de Andrômeda-Zeta não era um lugar para os fracos de coração. Era um cubículo de metal flutuante no vácuo, cheio de mercadores de rostos carrancudos e caçadores de recompensas com cicatrizes. **Alurdun Finn** era o seu faroleiro. Um homem silencioso, com olhos que tinham visto demasiadas estrelas solitárias, cuja única companhia era o zumbido constante dos scanners de longo alcance e o eco das transmissões interestelares.
A sua vida era um ciclo de solidão, quebrado apenas pelas leituras de rotina. Até que uma dessas leituras se tornou numa voz.
**”…isto é o cargueiro leve *Serenity’s Bolt*, solicitando permissão de aproximação. Capitão Andrew Delta ao comando.”**
A voz era como um raio de sol numa noite congelada. Era calorosa, confiante e tingida com um sotaque do Cinturão de Orion que fez Alurdun esquecer, por um momento, o seu próprio protocolo.
— Permissão concedida, *Serenity’s Bolt* — respondeu Alurdun, a sua voz mais áspera do que o habitual por falta de uso. — Transfira os seus códigos de carga.
Assim começou o seu primeiro contacto. Andrew Delta tornou-se uma presença regular na sua órbita. As suas transmissões eram breves e profissionais, mas Andrew sempre encontrava um motivo para prolongá-las. Um comentário sobre uma anomalia nebular, uma piada sobre a comida desidratada, uma pergunta sobre como se aguentava a quietude.
Alurdun, inicialmente reticente, começou a viver para aqueles momentos. A sua solidão, outrora um fato espacial, tornou-se um vácuo que ansiava por ser preenchido por aquela voz. Ele começou a recolher fragmentos das conversas: Andrew gostava de jazz sinfónico, tinha uma cicatriz no queixo de um encontro com uns contrabandistas, e sonhava em um dia ter uma quinta numa lua com duas estrelas.
A atração era uma força de gravidade lenta e inevitável, puxando-os um para o outro através do espaço vazio.
A crise aconteceu quando um alerta de radiação de uma erupção solar menor surgiu nos monitores de Alurdun. A rota do *Serenity’s Bolt* colocava-o diretamente no caminho do perigo. O protocolo ditava um aviso genérico. O coração de Alurdun ditou outra coisa.
Ele abriu um canal direto, urgente.
— Andrew, ajusta o teu vetor para 234 mark 7, agora! É uma tempestade de prótons. Os teus escudos não vão aguentar.
Houve um silêncio estático, depois a voz de Andrew, surpresa e grata:
— Recebido, Farol. Obrigado. Estou em dívida.
— Chama-me Alurdun — disse ele, o seu nome soando estranho e íntimo no canal seguro.
Quando o *Serenity’s Bolt* atracou para uma paragem de reparações não programada, Andrew Delta apareceu na escotilha do posto. Era mais baixo do que Alurdun imaginara, com a cicatriz no queixo e uns olhos que riam mesmo quando a sua boca não o fazia.
Alurdun estava à sua espera, tendo limpo o seu pequeno domínio pela primeira vez em meses.
Não houve necessidade de muitas palavras. A tensão que se tinha construído nas ondas de rádio materializou-se no quarto apertado. Andrew estendeu a mão, não para um aperto, mas para tocar no braço de Alurdun.
— És diferente do que eu esperava — sussurrou Andrew.
— E tu és exatamente como a tua voz — Alurdun respondeu, a sua própria voz pouco mais do que um sussurro. — Como um lar.
E naquele cubículo de metal à beira da vastidão, os dois encontraram um ponto de gravidade comum. Alurdun, o guardião da solidão, e Andrew, o viajante eterno, descobriram que a maior aventura não era a próxima estrela, mas o espaço quieto que criavam quando estavam juntos.



