Helping Hand – Antony Misset and Robert Colmenares

A livraria “O Verso Esquecido” cheirava a papel velho e poeira sagrada. Antony Misset era seu guardião, um bibliófilo cuja vida era organizada como o índice de um livro: alfabética, decimal, previsível. Ele conhecia o lugar exato de cada volume, cada história, e preferia a companhia delas à dos homens.
Tudo mudou numa tarde de tempestade, quando a porta badalou e entrou Robert Colmenares.
Ele era um caos bem-vestido. Trazia a chuva nos ombros da trench coat e o cheiro do mundo exterior. Seus olhos, de um cinza tempestuoso, percorreram as estantes não com a reverência de um estudioso, mas com a fome de um explorador.
“Preciso de um livro sobre a história do vidro,” Robert anunciou, sua voz um baixo suave que fez Antony erguer os olhos de seu catálogo.
“Corredor sete. Arquitetura e materiais,” Antony respondeu, automático.
Mas Robert não se moveu. “Não. Não é para um projeto. É para entender por que algo tão frágil pode conter um oceano sem se quebrar.”
A resposta foi tão inesperada que Antony engasgou com seu próprio silêncio. Aquela não era uma busca por informação; era uma busca por metáforas.
Robert voltou no dia seguinte. E no outro. Suas perguntas eram sempre assim: indiretas, poéticas, desarrumando a ordem perfeita da mente de Antony. Ele era um tradutor, ele explicou, não de idiomas, mas de sensações – transformando a textura de um tecido, o sabor de um vinho, a melancolia de um pôr do sol em palavras para campanhas publicitárias.




