Tyler Wu and BastiausBerlin – Part 1

O mundo de Tyler Wu era feito de código, café gelado e a luz azulada de três monitores. Sua vida era limpa, previsível e eficiente, como as linhas de programação que escrevia. Tudo mudou quando o apartamento ao lado, vazio há meses, foi ocupado.
O som chegou primeiro. Um baixo profundo que vibrava através da parede de concreto, seguido pelo aroma inconfundível de tinta a óleo e terebintina. A primeira vez que Tyler viu BastiausBerlin, ele estava carregando uma tela maior que ele próprio, manchado de azul e amarelo, com um boné de lã cobrindo seus cachos castanhos.
Era uma tempestade de caos, um furacão de cores e som em um corpo alto e desengonçado. Tyler, por natureza, detestava furacões.
Os dois existiam em universos paralelos e opostos. Tyler organizava meetups de tecnologia no térreo do prédio; Bastiaus fazia sessões de arte aberta com música eletrônica experimental que, para Tyler, soava como “um modem tendo um ataque de pânico”. Eles se cruzavam no corredor — Tyler de blusa de gola alta e fones de ouvido com cancelamento de ruído; Bastiaus de calças largas salpicadas de tinta e um sorriso desarmadamente fácil.
O ponto de ruptura veio em uma noite de domingo. O baixo da festa de Bastiaus fez com que Tyler derrubasse café sobre seu teclado favorito. Foi a gota d’água. Marchou até a porta do vizinho, pronto para a guerra.
A porta se abriu antes que ele batesse. A música era alta, sim, mas o apartamento era um caos organizado de telas vibrantes. E no centro, Bastiaus estava pintando, seu corpo todo se movendo com a energia da criação, completamente imerso. Ele viu Tyler e, sem dizer uma palavra, abaixou o volume.
“Desculpa,” disse Bastiaus, seu sotaque carregando um “s” suave. “É difícil conter quando a inspiração vem. Você é o Tyler, do código silencioso, certo?”
Tyler, pego de surpresa pela percepção e pela falta de confronto, apenas assentou.
“Quer entrar?” Bastiaus ofereceu, apontando para a tela. “Pode julgar a perturbação.”
Hesitante, Tyler entrou. A tela era um turbilhão de cores, mas quanto mais ele olhava, mais começa a ver padrões, uma estranha e bela lógica naquele caos. Bastiaus lhe mostrou suas telas, falando sobre a solidão de uma cidade grande e a tentativa de capturar sua energia em pintura. Tyler, por sua vez, falou sobre a solidão silenciosa de falar com máquinas o dia todo.
Tyler começou a visitar o estúdio de Bastiaus depois do trabalho. Ele trouxe seu laptop e trabalhou em um canto, enquanto Bastiaus pintava. A música eletrônica, que antes era ruído, começou a fazer sentido, suas batidas se tornando a trilha sonora de sua nova