Benny Fox bottoms for Joseph Santos

O mundo de Joseph Santos era feito de linhas retas, planilhas e a previsibilidade reconfortante dos números. Sua livraria, “O Alquimista”, era um reino de ordem alfabética e silêncio reverente, onde o aroma de papel antigo era o incenso que ele adorava. Até que Benny Fox entrou como um redemoinho de cores, trazendo o caos em sua mochila surrada.
Benny era um artista de rua. Cabelos desgrenhados tingidos de azul, roupas com tinta seca e um sorriso que desafiava a cinza de São Paulo. Ele não *entrou* na livraria, ele *invadiu*, abrindo a porta com um estridente “Bom dia, seu lindo!” dirigido ao gato siamês de Joseph que dormia sobre uma pilha de clássicos.
Joseph, um homem tímido cujos óculos eram um escudo contra o mundo, franziu a testa.
— “Posso ajudá-lo?” — perguntou, a voz mais contida do que gostaria.
— “Procuro inspiração, Joe! Posso te chamar de Joe?” — Benny já estava com um sketchbook na mão, os olhos percorrendo as prateleiras como se vissem mundos invisíveis. — “E um café. Você tem café?”
Joseph não tinha café. Tinha chá de camomila e regras. Muitas regras. A primeira delas era: silêncio.
Contra todas as suas probabilidades calculadas, Benny tornou-se uma constante. Todos os dias, às 15h, ele aparecia, comprava um café de uma cafeteria vizinha (trazendo um para Joseph, “Para adoçar essa carranca, homem!”) e instalava-se em um canto, desenhando.