Alone Time – Michael Boston and Ricky Donovan

O bar “Donovan’s” cheirava a cerveja derramada e sonhos desfeitos. Ricky Donovan herdara o lugar do pai, e cada noite era a mesma ladainha – clientes bêbados, copos para lavar, e o fantasma do velho Donovan observando de uma fotografia desbotada atrás do balcão.

Michael Boston era um estranho naquele cenário. Usava camisas bem passadas e tinha as mãos macias de quem trabalhava com código, não com garrafas. Sentava-se sempre no mesmo banco, no canto mais escuro, com seu laptop e um uísque solitário.

“Outra noite, outra linha de código quebrada?”, Ricky perguntou, secando um copo com um pano que já vira dias melhores.

“Algo assim”, Michael respondeu, sem levantar os olhos da tela. “Estou tentando consertar um erro que eu mesmo causei.”

Ricky não entendia nada de programação, mas entendia a dor na voz de um homem. Serviu outro uísque, por conta da casa.

As semanas se passaram. Michael tornou-se uma figura constante, uma ilha de silêncio no caos do bar. Ricky, por sua vez, começou a notar coisas – que Michael bebia seu uísque com dois cubos de gelo exatos, que ele massageava a têmpora quando ficava frustrado, que seu sorriso raro podia iluminar até o canto mais escuro do bar.

A verdade veio à tona numa noite chuvosa. Michael, mais abatido que o normal, finalmente contou: o “erro” era uma falha de segurança num aplicativo de banco que ele criara, uma brecha que permitira um hacker roubar milhares. Sua carreira estava em ruínas.

“Eu vim para esta cidade para começar de novo”, ele confessou, a voz embriagada e cheia de culpa. “Mas você não pode escapar de si mesmo.”

Ricky colocou uma música suave no jukebox – um velho blues – e sentou-se ao lado dele. “Meu pai faliu este bar três vezes”, disse, olhando para a foto desbotada. “A quarta vez que ele reabriu, minha mãe tinha ido embora, e eu o odeiei por isso. Mas ele sempre dizia: ‘Ricky, um homem não é definido pelo seu pior erro, mas pelo que ele constrói com os cacos’.”

Michael ergueu os olhos, e pela primeira vez, Ricky viu algo além de desespero neles – uma centelha de esperança.

Nos dias que seguiram, algo mudou. Michael começou a ajudar no bar após o horário, consertando o sistema de pedidos caótico, criando um site simples. Em troca, Ricky ensinou-lhe a destilar sua própria cerveja artesanal, algo que exigia paciência e aceitação do processo.