Malik Delgaty and Filou Fitt play in the Shower

O vento do outono dançava pelas ruas de Paris, carregando folhas secas e o cheiro de chuva iminente. Malik Delgaty observava a cidade através da vitrine de sua pequena livraria, arrumando meticulosamente uma pilha de clássicos encadernados em couro. Era um homem de rotinas, de silêncios confortáveis e gestos precisos. Sua vida era como as prateleiras que cuidava: organizada, previsível e um pouco poeirenta.
Até aquele dia.
A campainha da porta tilintou, anunciando uma entrada apressada. Um turbilhão de cores e movimento invadiu o espaço silencioso. Era um homem com um casaco vermelho berrante, calças desfiadas e um sorriso que parecia desafiar a cinza tarde parisiense. Nos braços, trazia um cesto de vime de onde espreitavam dois olhinhos curiosos e um focinho úmido.
— Desculpe o atraso! — disse o recém-chegado, sem fôlego, dirigindo-se mais ao cachorro do que a Malik. — O Filou decidiu perseguir um pombo pela Rue de Rivoli. É um artista da fuga, este aqui.
Malik arregalou os olhos, mais surpreso com a invasão de energia do que com a presença do animal. Ele gostava de cachorros, mas a livraria era um templo de tranquilidade.
— O… seu cachorro? — conseguiu articular.
— Eu? Não. Eu sou Filou Fitt — o homem estendeu a mão, ainda um pouco ofegante. — E este é Jean-Paul, meu sócio em aventuras. Ele é o cachorro. Eu sou o caótico.