Geoff Gregorio fucks Ross Budman

Geoff Gregorio era um homem de rotinas. Todas as tardes, às 17h em ponto, ele entrava no café “O Átomo”, tirava o casaco de tweed e pedia um chá de camomila. Ele era um restaurador de livros, um homem cujos dias eram passados em silêncio, reconstruindo histórias alheias, colando páginas rasgadas e suavizando dobras seculares. Sua vida era como uma página em branco esperando por uma ilustração.
Ross Budman era a ilustração.
Ross entrava no café como um redemoinho de cores, sempre às 17h15, atrasado cronometricamente. Trazia consigo o cheiro de tinta a óleo e o frio do parque onde pintava. Suas roupas tinham manchas de cores aleatórias, e sua voz era um contralto despreocupado que quebrava o sussurro polido do lugar. Ele pedia um café expresso duplo e, invariavelmente, espalhava pastéis, pincéis e esboços pela mesa.
O primeiro contato não foi com palavras, mas com um pincel. A ponta do pincel número 8 de Ross, carregada de um azul ultramarino vibrante, tocou acidentalmente a manga imaculada de Geoff.
“Deus, sinto muito!”, Ross exclamou, seus olhos verdes cheios de genuíno pânico. “Esse azul é teimoso, ele pula para as coisas mais limpas que vê.”
Geoff olhou para a mancha, uma pequena explosão de cosmos naquele tecido bege. Em vez de irritação, sentiu uma pontada de curiosidade. “É uma cor bonita”, disse, surpreso com sua própria voz. “Parece o céu antes da tempestade.”
Ross sorriu, um sorriso que parecia iluminar o canto sombrio onde Geoff se sentava. “Exatamente! É a cor da minha nova série: ‘Céus Inquietos’.”
A partir daquele dia, as 17h15 tornou-se o momento mais aguardado da rotina de Geoff. Eles não combinavam de se encontrar; simplesmente acontecia. Ross falava sobre suas telas, sobre a luz do entardecer e a frustração de nunca capturar perfeitamente o vermelho de um beija-flor. Geoff, por sua vez, falava sobre a textura do velino, o cheiro do papel antigo e a delicadeza de reparar um “furo de traça” sem apagar a história.
Eles eram opostos. Geoff era meticuloso; Ross, impulsivo. Geoff preservava o passado; Ross criava o futuro. Mas no espaço entre suas mesas, algo novo nascia.
Geoff começou a ver o mundo através das cores de Ross. O cinza da cidade ganhou tons de pérola, o verde das árvores tornou-se esmeralda. Ross, por outro lado, começou a apreciar a beleza da paciência, a história por trás de cada objeto. Ele presenteou Geoff com uma pequena aquarela de um livro aberto, com páginas que pareciam sopradas pelo vento. Era a coisa mais preciosa que Geoff possuía.
O amor deles não foi declarado com grandiosidade, mas com uma sucessão de momentos sutis. Um guarda-chuva compartilhado em um dia de chuva. Um sanduíche dividido quando Ross esquecia o almoço. A mão de Geoff, steady como a de um cirurgião, enfaixando um corte no dedo de Ross causado por uma lata de tinta.
O ápice aconteceu em uma tarde tranquila. Ross estava excepcionalmente quieto, observando a xícara de café vazia.
“Estou com medo”, confessou ele, sem olhar para Geoff. “Tenho uma exposição importante. E se ninguém gostar? E se eu não for bom o suficiente?”
Geoff não disse “você é bom”. Ele colocou a xícara de chá de lado e, com a mesma delicadeza com que tratava um incunábulo do século XV, pegou a mão de Ross, aquela mão sempre manchada de tinta, e entrelaçou os dedos com os dele.
“Ross”, ele disse, sua voz firme e suave. “Você não pinta para que as pessoas gostem. Você pinta porque precisa. Porque o mundo precisa da sua cor. Leve seus céus inquietos para eles. Eu estarei lá, na primeira fila, para vê-los.”
Ross olhou para suas mãos entrelaçadas – a mão limpa e precisa do restaurador e a mão vibrante e caótica do artista. Eles se encaixavam perfeitamente. Uma lágrima solitária escapou do canto de seu olho, limpando um caminho minúsculo na tinta seca de sua face.
“Geoff Gregorio”, sussurrou Ross, seu sorriso voltando, mais radiante do que nunca. “Você acabou de colar um pedaço de mim que eu nem sabia que estava rasgado.”
Na noite da exposição, entre os “Céus Inquietos” de Ross, havia uma pequena pintura nova, escondida em um canto. Ela mostrava duas mãos entrelaçadas sobre a mesa de um café, uma imaculada e a outra coberta de manchas de tinta. Ao fundo, uma xícara de chá e uma de café. O nome da obra era “Ponto de Restauro”.
Geoff ficou parado diante dela por um longo tempo, sabendo que, finalmente, sua própria história não era mais uma página em branco. Estava sendo escrita, vivida e pintada, na mais vibrante das cores, ao lado de Ross Budman.