Samy Dorgham’s bottoming debut – Diego Sans and Samy Dorgham

Era como se o universo, em um de seus raros momentos de perfeita sincronicidade, tivesse decidido colidir dois mundos opostos no mesmo ponto do espaço e tempo. O ponto era uma livraria antiga e empoeirada, e o tempo, uma tarde chuvosa de outono.
Diego Sans era o caos organizado. Com seus braços adornados por tatuagens de constelações e citadinos, ele respirava arte. Era um pintor que capturava o som das ruas em telas cheias de cores vibrantes e linhas agressivas. Seu coração batia no compasso do rock alternativo e suas verdades eram ditas sem filtro, mesmo que isso significasse ferir. Ele acreditava que a beleza estava na verdade crua, não na delicadeza.
Samy Dorgham era a serenidade em movimento. Estudante de literatura clássica, seus olhos cor de mel guardavam a quietude de bibliotecas seculares. Suas palavras eram medidas, envoltas em uma gentileza que parecia ter sido tecida em fios de cobre macio. Ele encontrava poesia no ritmo lento do chá esfriando numa xícara e na geometria perfeita dos livros alinhados na prateleira. Acreditava que a verdade mais profunda era aquela sussurrada, não gritada.
O destino, ou talvez um empurrão desastrado de outro cliente, fez com que Samy derrubasse uma pilha de livros que Diego folheava perto de uma estante de poesia. Os volumes caíram no chão de madeira, e um deles, um antigo “Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada”, abriu-se exatamente na página do Poema 15.
“Desculpe! Foi sem querer”, disse Samy, a voz um acorde suave no silêncio da livraria.
Diego, que inicialmente franziu a testa, olhou para o homem diante de dele. Havia uma calma em seus olhos que desarmou sua habitual impetuosidade. “Tudo bem. O Neruda já sobreviveu a coisas piores”, respingou, um quase-sorriso tocando seus lábios.
Enquanto se abaixavam juntos para pegar os livros, suas mãos se tocaram ao alcançar o mesmo volume. Um choque súbito, não desagradável, percorreu o braço de ambos. Diego sentiu a suavidade da pele de Samy; Samy, a textura áspera das pontas dos dedos de Diego, manchadas de tinta.
A partir daquele dia, a livraria tornou-se seu lugar. Encontravam-se ali todas as semanas. Diego levava Samy para ver murais de graffiti em becos escondidos, falando sobre a fúria e a beleza da arte de rua. Samy, por sua vez, lia trechos de “O Profeta” para Diego em voz baixa, ensinando-o a ver a narrativa escondida nas pichações.
Era um aprendizado mútuo, um estranho e maravilhoso dialeto que apenas os dois entendiam. Diego ensinou Samy a não ter medo da própria intensidade. “Seu silêncio é lindo, Samy, mas suas paixões não precisam morrer nele”, disse ele certa vez, após Samy confessar um desejo profundo de escrever. Samy, por sua vez, mostrou a Diego que a força não estava apenas no grito, mas também no ato de segurar alguém com brandura. “Sua verdade não precisa ser uma faca, Diego. Pode ser um abraço”, sussurrou, enxugando uma lágrima de raiva do rosto do pintor.
O amor não foi um furacão, nem uma brisa constante. Foi a mistura dos dois. Havia noites de discussões acaloradas, onde a brutal honestidade de Diego feriam a sensibilidade de Samy, e dias em que o mundo interior fechado de Samy fazia Diego se sentir excluído. Mas sempre, invariavelmente, um buscava o outro. Diego aparecia na porta de Samy com um café e um desenho novo. Samy mandava uma mensagem com um poema que dizia tudo o que sua voz teimava em calar.
Uma tarde, no aniversário de um ano de seu primeiro encontro, Diego levou Samy para o seu estúdio. No centro da sala, coberto por um pano, havia uma tela.
“Pintei isso para você”, disse Diego, a voz mais suave do que o normal.
Samy puxou o pano e prendeu a respiração. Era ele. Mas não era um retrato realista. Era uma explosão de cores douradas e âmbar, suas feições traduzidas em formas geométricas suaves, como vitrais. E, saindo de seu peito, havia linhas negras e vigorosas, como as que Diego usava para pintar a cidade, entrelaçando-se com as cores suaves para formar uma constelação única e complexa. No canto, estava escrito: “Ao meu caos sereno, ao meu Samy.”
Samy não disse nada. Seus olhos encheram-se de lágrimas que não eram de tristeza, mas de ser completamente visto e compreendido. Pegou na mão de Diego, a mesma mão áspera e cheia de histórias que um dia encontrara a sua em uma livraria.
E naquele toque, o universo parecia sussurrar sua aprovação. Porque Diego Sans e Samy Dorgham haviam descoberto que o amor mais duradouro não é aquele entre iguais, mas aquele que tece uma melodia perfeita a partir de duas canções radicalmente diferentes.