The Shower Scene – Axel Abysse, John Thomas

O vento soprava frio sobre o penhasco, carregando o cheiro salgado do mar e o som distante das gaivotas. Axel Abysse era um faroleiro, um homem tão sólido e constante quanto a rocha sobre a qual sua torre se erguia. Sua vida era um ciclo de solidão: o rugido do oceano, a luz giratória cortando a névoa e os livros surrados que mantinham sua mente sã. Ele conhecia as marés, as constelações e cada nuance da tempestade, mas o coração humano lhe era um mapa inexplorado.
Tudo mudou com a chegada de John Thomas.
John era um biólogo marinho, enviado para estudar uma colônia incomum de estrelas-do-mar nas cavernas submersas próximas ao farol. Era o oposto de Axel: onde Axel era reservado e enraizado, John era expansivo e curioso, seus olhos brilhando com a energia de quem via o mundo como um constante deslumbramento. Ele trazia consigo o caos de equipamentos, amostras e risadas que ecoavam nas paredes de pedra do farol.
Axel observou o recém-chegado com uma desconfiança silenciosa. A presença de John era uma intrusão em seu reino ordenado. Mas o dever falou mais alto, e Axel ofereceu a garagem velha, abarrotada de tralhas, como laboratório improvisado.
Os dias viraram semanas. Axel encontrava John na beira da água ao amanhecer, mergulhando nas águas gélidas com uma coragem que beirava a temeridade. À noite, enquanto a grande luz do farol varria a escuridão, John subia as escadas de caracol, trazendo duas canecas de café e um fluxo incessante de histórias. Falava sobre a simetria perfeita de uma água-viva, a inteligência dos polvos, o canto das baleias. Axel, inicialmente reticente, começou a falar também. Falou dos navios que a luz do farol salvara, do silêncio que era um manto pesado, da solidão que era um oceano à parte.
John Thomas não oferecia piedade. Oferecia companhia. Ele via a profundidade em Axel, um abismo tão grande quanto o que estudava no mar, e não sentia medo, apenas fascínio. E Axel, por sua vez, começou a ver em John não um furacão passageiro, mas uma corrente quente que derretia o gelo ao redor de seu próprio coração.
Uma noite, uma tempestade feroz desabou sobre a costa. A energia caiu, e o gerador de emergência do farol falhou. No escuro, com os ventos uivando como almas penadas, a única luz que importava estava ameaçada. Sem pensar, os dois homens trabalharam juntos na torre, com lanternas presas na cabeça, as mãos geladas e os rostos molhados pela chuva que entrava pelas frestas. Foi um balé de urgência e confiança. Axel, com seu conhecimento íntimo de cada engrenagem, e John, com sua força e calma sob pressão.
Quando o mecanismo voltou a funcionar e o feixe de luz poderosa cortou a escuridão mais uma vez, eles se olharam, ofegantes e encharcados. Na penumbra da lanterna, algo mudou. A admiração, o respeito e o afeto que haviam crescido silenciosamente naqueles dias explodiram no espaço diminuto entre eles.
John levantou uma mão trêmula e moveu um fio de cabelo molhado da testa de Axel. O toque foi como um choque, mas um choque que aqueceu.
“Eu não sabia que tinha medo do escuro”, sussurrou Axel, sua voz rouca pelo vento e pela emoção, “até que a sua luz pode se apagar.”