Luka pounds Anderson Parker

O vento soprava frio pelas ruas de Nova York, levando consigo as últimas folhas do outono. Luka encolhia-se no casaco, apressando o passo em direção ao pequeno café na esquina da Rua 54. Era seu refúgio, o lugar onde o mundo parecia desacelerar. Onde o cheiro de café fresco e canela embalavam seus sonhos de escritor.
Ao entrar, o calor aconchegante envolveu-o como um abraço. Foi então que o viu. Sentado na mesa do canto, perto da janela embaçada, um homem de cabelos escuros e olhos claros, profundos como o oceano, lia um livro desgastado de García Márquez. Luka reconheceu-o imediatamente: Anderson Parker, o arquiteto renomado cujo projeto para um novo parque tinha sido capa do jornal na semana anterior.
Nos dias que se seguiram, Luka voltou ao café no mesmo horário. E, como um ritual, Anderson estava sempre lá, na mesma mesa, com um livro diferente. Eles trocavam olhares breves, um aceno de cabeça tímido, um quase-sorriso. Até que um dia, o destino decidiu interferir.
O café estava lotado. A única cadeira vazia estava justamente na mesa de Anderson. Com o coração batendo forte, Luka aproximou-se.
— Desculpe, posso? — perguntou, a voz um pouco trêmula.
Anderson ergueu os olhos do livro, e um sorriso genuíno iluminou seu rosto.
— Claro. Está fugindo do frio também?
A conversa fluiu como o rio que corria no parque que Anderson projetava. Falaram de livros, de música, das estrelas que começavam a aparecer no céu nublado da cidade. Luka descobriu que por trás da fachada do arquiteto bem-sucedido, havia um homem sensível que amava poesia e tinha medo de espaços confinados. Anderson, por sua vez, descobriu que Luka não era apenas um aspirante a escritor, mas um contador de histórias que via a beleza nos detalhes mais simples, na rachadura na calçada, no modo como a neve caía sobre os ombros dos transeuntes.
O café tornou-se seu lugar. Todos os dias, às cinco da tarde, eles se encontravam. As conversas se aprofundaram, os olhares se alongaram, e o espaço entre suas mãos sobre a mesa diminuiu até que, num inverno particularmente rigoroso, seus dedos se entrelaçaram, e o calor foi suficiente para derreter toda a neve do mundo.
Anderson, que sempre viveu sua vida sob o escrutínio público, encontrou em Luka um porto seguro. E Luka, que sempre se sentiu um espectador da vida, descobriu o que era ser o protagonista de alguém.
Uma noite, Anderson levou Luka ao canteiro de obras do seu tão falado parque. Sob a luz prateada da lua, com a cidade iluminada ao fundo, era um caos organizado de terra e aço.
— Eu queria te mostrar isso — disse Anderson, segurando a mão de Luka. — Este parque… eu o projetei pensando em um lugar onde as pessoas pudessem se perder e se encontrar ao mesmo tempo. Como eu me senti quando te encontrei.
Luka não conseguiu conter as lágrimas. Ali, naquele lugar inacabado e cheio de potencial, ele viu o reflexo do seu próprio amor: ainda em construção, mas com bases sólidas e a promessa de algo lindo.
Anderson ajoelhou-se, não no mármore polido de um edifício chique, mas na terra úmida e fértil.
— Luka — chamou, sua voz um sussurro carregado de toda a emoção que sentia. — Você é a história que eu sempre quis ler, mas nunca ousei escrever. Case comigo?
O sim de Luka foi engolido pelo beijo que se seguiu, um beijo que sabia a futuro, a terra molhada e a café com canela. Dois anos depois, no parque concluído, agora batizado de “Parque das Histórias”, Luka e Anderson Parker caminhavam de mãos dadas. Sob a cerejeira que Anderson plantou no dia do noivado, Luka sussurrou ao ouvido do marido:
— Nossa história é meu conto favorito.
E era. Uma história simples, sem dramas épicos ou tragédias, mas escrita a duas mãos, página por página, no ritmo paciente e constante do amor que se constrói todos os dias.