One On Two – Aurelien, Mehdi le Zobeur and Brice Farmer

O mercado de pulgas de Clignancourt era um universo em si mesmo, um labirinto de trastes e tesouros. **Brice Farmer**, um *brocanteur* inglês de terno tweed e olhar cínico, procurava peças únicas para vender por dez vezes o preço em galerias chiques. Ele era um caçador de relíquias, e seu coração era tão empoeirado quanto os objetos que colecionava.

Foi lá que ele encontrou o candelabro.

Era uma peça estranha, de prata negra e formas torcidas, que parecia sussurrar. E ao lado dela, dois homens tão incomuns quanto o objeto.

**Aurelien**, um ourives argelino-francês com mãos de fada e olhos que viam a alma dos metais. E **Mehdi le Zobeur**, um contador de histórias tunisino, cujas palavras eram tão vivas que davam cor até à poeira mais cinzenta. Eles eram donos da barraca.

Brice, com seu charme afiado, tentou comprar o candelabro por uma ninharia. Aurelien recusou com um gesto calmo. Mehdi, com um sorriso malandro, disse: “Ele não está à venda. Ele está à espera.”

Intrigado, Brice voltou no dia seguinte. E no outro. Cada visita era uma desculpa. Ele descobria que Aurelien não só restaurava metais, mas lhes dava nova vida, sentindo suas histórias como um vidente. E que Mehdi não só vendia trastes, mas presentecia cada comprador com uma lenda, verdadeira ou não, que os fazia rir ou se emocionar.

Brice, o homem prático, começou a se perder na magia daquela barraca. Ele, que sempre vira valor em preço, começou a vê-lo em beleza, em história, no toque de Aurelien ao polir uma peça, na risada de Mehdi ao contar mais uma lorota.

O amor não foi um raio. Foi como o trabalho de Aurelien: lento, paciente, camada após camada, até revelar o brilho por baixo da sujeira. Foi Brice ajudando a carregar caixas pesadas, ficando depois do fechamento para ouvir mais uma história, trazendo chá para Aurelien quando suas mãos cansadas tremiam.

E foi Mehdi, o tagarela, que um dia ficou em silêncio, olhando para Brice e Aurelien trabalhando juntos numa velha fechadura, e sorriu, sabendo que o candelabro finalmente encontrara seu terceiro dono.

O candelabro, descobriram eles, era peça de um trio de colecionadores de histórias, separados há séculos. Sozinhos, Brice, Aurelien e Mehdi eram peças incompletas. Juntos, fechavam o circuito.

**Brice Farmer** encontrou não uma relíquia para vender, mas um lar para seu coração nômade. **Aurelien** encontrou alguém que valorizava sua arte silenciosa. E **Mehdi le Zobeur** ganhou sua maior história para contar: a deles. Uma história de três corações, tão diferentes quanto o bronze, a prata e o ouro, fundidos no calor do mesmo amor.