
A noite em Neon Heights era um ser vivo, pulsando com a batida sintética da música que vinha dos clubes e o zumbido dos levantes que cortavam o céu. Axel Kane era uma sombra nesse mundo, um “corretor de informações” — um nome chique para quem vendia segredos na zona cinzenta da cidade. Seu escritório era um cubículo escuro com vistas para os anúncios holográficos, e sua única lei era a sobrevivência.
Tudo mudou quando Krozzy Kay entrou em sua vida como um furacão de cor e caos.
Krozzy era uma artista de grafite, uma fantasma urbana que pintava a cidade com sonhos proibidos. Seus “tags” — a assinatura “Krozzy Kay” envolta em explosões de tinta neon — apareciam nos lugares mais impossíveis: no topo de arranha-céus, nos flancos de trens-bala, até mesmo no dorso de um androide de segurança. Ela não era uma criminosa; era uma mitologia.
Axel foi contratado para encontrá-la. Uma corporação gigante, a Syntec, queria que a arte de Krozzy parasse de criticar seu controle sobre a cidade. Pela primeira vez, Axel falhou. Ele rastreou seus movimentos, previu seus padrões, mas ela estava sempre um passo à frente, deixando para trás não só uma nova obra de arte, mas uma ponta de seu perfume de cereja elétrica.
A obsessão profissional deu lugar a uma fascinação pessoal. Ele começou a colecionar fotos de seus grafites, estudando não a lógica, mas a emoção por trás deles. Havia uma esperança teimosa naquelas cores, uma crença de que a cidade ainda poderia ser bela.
A noite em que finalmente se encontraram foi em um telhado, sob a chuva ácida que brilhava sob os holofotes. Axel a encontrou não como um caçador, mas como um admirador.
“Eu desisto”, ele disse, as mãos vazias, levantadas em sinal de paz. “Sou Axel Kane. E vim avisá-lo que a Syntec enviou drones de neutralização.”
Krozzy, com uma máscara de gás puxada para o pescoço e latas de tinta presas ao cinto, riu. Seus olhos eram da cor de um céu que a poluição não permitia mais ver.
“Eu sei quem você é, Kane. E sei que você desistiu de me caçar há duas semanas. Você só ficou me observando.”
O amor entre um homem que se escondia nas sombras e uma mulher que se expressava na luz era uma contradição perigosa. Encontravam-se em becos esquecidos, compartilhando refeições quentes de barracas de rua enquanto a cidade dormia. Axel ensinava a Krozzy como desaparecer de verdade; Krozzy ensinava a Axel como viver de verdade.
Foi durante uma fuga apertada, perseguidos por drones da Syntec, que tudo ficou claro. Empurrados para um beco sem saída, Krozzy se virou para Axel, sem medo, com um sorriso nos lábios.
“Valia a pena, não valia? Pintar o mundo com um pouco de beleza?”
“Tudo”, ele respondeu, sua voz áspera, enquanto puxava um dispositivo de seu casaco. “Tudo valia a pena.”
Ele não ativou um escudo ou uma arma. Ativou um pulso eletromagnético que queimou todos os drones, mas também apagou todos os holofotes no quarteirão. Pela primeira vez em anos, as estrelas ficaram visíveis sobre Neon Heights.
Na escuridão silenciosa, sob um céu que finalmente parecia real, Axel e Krozzy se encontraram. Dois mundos opostos — o calculista e a sonhadora — haviam se colidido e criado algo novo: um refúgio. E no coração da cidade cibernética, eles descobriram que o maior ato de rebeldia era, simplesmente, amar.