Charlie Musk and Zane Belville fuck

O mundo de Charlie Musk era feito de silêncios e sombras. Ele era um restaurador de livros, um homem cujos dedos conheciam a textura do tempo melhor do que a pele de outro ser humano. Seus dias passavam entre a acidez do papel envelhecido e o cheiro do couro, no subsolo empoeirado da Biblioteca Belville.
A Biblioteca era um monumento à arrogância de uma família que há muito tinha perdido sua fortuna. Zane Belville, o último herdeiro, era um furacão de desdém e dívidas. Alto, com olhos cor de âmbar e um sorriso que raramente chegava aos olhos, ele entrava na biblioteca uma vez por mês para lembrar a Charlie que aquele santuário de palavras estava com os dias contados.
“Encontrou alguma primeira edição de Shakespeare escondida atrás de uma prateleira, Musk?” Zane perguntou, suas botas ecoando no assoalho de carvalho acima da cabeça de Charlie. “Algo para salvar este elefante branco da demolição?”
Charlie nem olhou para cima. Ele estava trabalhando em um pequeno volume de poesias do século XIX, suas costas frágeis e seus óculos escorregando pelo nariz. “A única coisa valiosa aqui, Sr. Belville, é o silêncio”, respondeu, sua voz um sussurro áspero por falta de uso.
Zane riu, um som oco. “O silêncio não paga contas.”
Mas Zane começou a ficar. Inicialmente, era apenas para irritar Charlie, para cutucar a tranquilidade do homem que parecia tão indiferente à sua presença. Ele se sentava na escada espiral que levava ao subsolo, observando Charlie trabalhar. Observava a paciência infinita com que ele descolava uma página, a reverência com que tratava cada letra.
“Por que você faz isso?” Zane perguntou uma tarde, genuinamente curioso. “Estes livros estão mofando. Ninguém os lê.”
Charlie finalmente ergueu os olhos, e Zane viu que eles eram da cor do musgo na floresta. “Alguém os escreveu. Alguém derramou sua alma aqui. Merecem ser lembrados.”
Foi a primeira vez que Zane não teve uma resposta pronta.
As visitas tornaram-se diárias. Zane trocou seus ternos caros por jeans e camisetas, e o desdém deu lugar a uma curiosidade silenciosa. Ele começou a ajudar, passando um pano nos livros, organizando pilhas. Charlie, relutantemente, começou a ensinar. Mostrou a Zane a diferença entre couro de carneiro e cabra, como misturar a cola perfeita, como ler as marcas d’água no papel.
E, enquanto ensinava Zane sobre livros, Charlie aprendeu sobre Zane. Aprendeu que seu desdém era uma armadura contra a dor de ver o legado de sua família desmoronar. Aprendeu que por trás daquela fachada de playboy irresponsável, havia um homem assustado e profundamente solitário.
O amor não chegou como um raio. Chegou como a restauração de uma página frágil: lenta, meticulosa, camada por camada. Chegou no toque acidental de suas mãos ao alcançar o mesmo livro. Nos cafés compartilhados em silêncio, enquanto a chuva batia nas janelas altas da biblioteca. No dia em que Zane encontrou um soneto de Elizabeth Barrett Browning escondido dentro de um livro de contabilidade e o leu em voz alta, sua voz, antes cínica, agora suave e hesitante.
Charlie olhou para ele sobre a mesa de trabalho, a luz fraca iluminando a poeira dourada no ar entre eles, e soube que estava perdido.
“Não posso demolir esta biblioteca”, Zane sussurrou uma noite, suas mãos cobertas de tinta e pó. Ele estava de joelhos, ajudando Charlie a recolher páginas soltas que haviam caído de um atlas antigo. “Não posso demolir o único lugar onde finalmente me senti… real.”
Charlie colocou sua mão sobre a de Zane. A pele de Zane era quente e viva, um contraste gritante com o papel frio e quebradiço que os cercava. Era o primeiro toque verdadeiro entre eles.
“A biblioteca é feita de pedra e madeira, Zane”, Charlie disse, sua voz mais firme do que nunca. “Mas o que ela guarda… o que construímos aqui… isso é feito de algo mais.”
Zane virou a mão e entrelaçou os dedos com os de Charlie. O silêncio que se seguiu não era vazio; era denso, preenchido com todas as palavras não ditas que agora ecoavam no espaço entre seus olhares.
A biblioteca não foi salva da maneira tradicional. Não houve um milagre financeiro. Zane vendeu o terreno, mas com uma condição: a biblioteca seria desmontada, pedra por pedra, livro por livro, e realocada em um espaço público, tornando-se um museu e um centro comunitário. Ele usou cada grama de seu charme e herança para garantir que isso acontecesse.
No último dia no edifício original, com as estantes vazias e o eco de seus passos mais alto do que nunca, Zane e Charlie ficaram no meio da sala principal.
“Tudo o que resta são as histórias”, disse Charlie, olhando para o vazio.
Zane puxou um pequeno livro do bolso. Era o volume de poesias do século XIX que Charlie estava restaurando no dia em que se conheceram.
“E nós”, Zane corrigiu, suavemente, abrindo o livro na página que Charlie havia reparado com tanto cuidado. “Nós também somos uma história, Charlie. E mal posso esperar para escrever o próximo capítulo.”
E quando se beijaram, entre a poeira e os ecos do passado, não foi um fim. Foi um novo começo, encadernado não em couro, mas em promessa, suas páginas esperando para serem preenchidas com uma vida inteira de palavras e silêncios compartilhados.