EderXXL and MlkOusado fuck

A noite em São Paulo era um organismo vivo, pulsando com o som de motores e funk ostentação. Em uma das pistas de rachas improvisadas da zona leste, dois reinos se enfrentavam.
De um lado, EderXXL. Seu apelido era uma subestimação. Com quase dois metros de altura e uma barba cerrada, ele era um gigante gentil, dono de uma oficina mecânica e um mestre em dar vida a carros antigos. Seu tesouro era um Chevette 86, não um carro de corrida, mas uma relíquia restaurada com as próprias mãos. Sua vida era de suor, trabalho duro e lealdade. As noites de racha eram seu escape, sua terapia.
Do outro lado, o universo oposto: MlkOusado. Piloto de drift, magro, ágil, coberto de correntes prateadas e uma confiança que beirava a arrogância. Seu carro era um Honda Civic tunado, um inseto tecnológico que cuspia fogo e fazia a borracha gritar nas curvas. Ele era pura adrenalina, um furacão de audácia e poses para as câmeras dos espectadores.
A rivalidade era lendária. O Gigante do Chevette contra o Ousado do Civic. A tradição contra a ousadia. Eder virava os olhos para as manobras exibicionistas de MlkOusado. MlkOusado zombava do carro “velho e lento” de Eder.
A virada aconteceu em uma noite de chuva fina. Em uma curva fechada, o Civic de MlkOusado perdeu a aderência, girando descontroladamente e batendo de lado no guard-rail. O barulho do metal se contorcendo silenciou a pista.
Eder foi o primeiro a chegar. Esperou por gracejos, por um “eu avisei”. Em vez disso, saltou do Chevette e correu em direção ao carro acidentado.
“Você tá inteiro, moleque?”, o grufu Eder, puxando a porta amassada.
MlkOusado — cujo nome real era Kaique — estava pálido, tremendo, mas ileso. “O… o carro…”
“O carro é ferro velho. A gente conserta”, Eder cortou, sua voz um baixo tranquilizador.
Ele rebocou o Civic até sua oficina. Nos dias que se seguiram, Kaique apareceu para ver o conserto. A princípio, era só sobre o carro. Mas ele começou a ficar, fascinado pela maneira calma e competente com que as mãos grandes de Eder trabalhavam o metal, soldavam, traziam ordem ao caos que ele mesmo havia criado.
Eder, por sua vez, começou a ver além da persona. Viu a insegurança nos olhos de Kaique quando ele não estava se exibindo. Viu o jovem que usava a ousadia como armadura.
Uma noite, com o carro quase pronto, Kaique quebrou.
“Todo mundo acha que é só manha”, ele confessou, olhando para as ferramentas alinhadas. “Ninguém acha que eu posso sentir medo. Ou que… que eu posso gostar de ficar quieto às vezes.”
Eder limpou as mãos em um pano. “Eu sei.”
“Como você sabe?”
“Porque eu também finjo. Finjo que não me importo com o que acham do meu carro velho. Finjo que não quero mais do que isso.”
O ar na oficina ficou carregado. O som da cidade lá fora era um zumbido distante.
Kaique se aproximou. A diferença de altura era cômica, mas a atração, inegável.
“E se a gente parar de fingir?”, ele sussurrou.
Eder não respondeu com palavras. Sua mão, ainda suja de graxa, levantou e tocou o rosto de Kaique com uma ternura que fez o coração do jovem acelerar mais do que qualquer drift.