Carlos Verga and Charlie Ferreira fuck – son fuck your daddy

Carlos Verga era um homem de rotinas. Acordava às seis e meia, tomava seu café preto enquanto lia o jornal, e saía para seu trabalho como encadernador na pequena livraria da família. Suas mãos, calejadas e precisas, davam nova vida a livros velhos e esquecidos. O mundo dele era silencioso, cheiroso a cola e couro, e previsível. Até aquele outono.
Charlie Ferreira explodiu na livraria como um furacão de cores e ruído. Era o novo entregador de uma empresa de logística, e apareceu carregando uma pilha de caixas desengonçadas, quase tropeçando no tapete da entrada.
“Gente, que lugar lindo! Cheira a história!”, disse ele, com um sorriso que parecia ocupar todo o seu rosto. Seus cabelos cacheados fugiam do coque desleixado e ele usava uma jaqueta de couro cheia de adesivos de bandas que Carlos não conhecia.
Carlos, reticente, apenas assentou com a cabeça. “As caixas vão ali no canto, por favor.”
Mas Charlie não se foi. Ficou percorrendo as estantes com os olhos, fazendo perguntas. “Quem é esse tal de Fernando Pessoa? E essa coleção de capa verde, é original?” Carlos respondia com monossílabos, mas algo na genuína curiosidade de Charlie o fez, na terceira visita, oferecer uma xícara de café.
As entregas de Charlie tornaram-se o ponto alto da semana de Carlos. Eles descobriram que eram opostos que se completavam. Carlos ensinava a Charlie a beleza da paciência, mostrando como uma costura bem-feita podia manter um livro unido por séculos. Charlie, por sua vez, arrastava Carlos para fora da sua bolha, levando-o a ver exposições de arte caóticas, a comer em food trucks e a rir de piadas terríveis.
O amor não foi um raio, mas uma encadernação. Foi sendo construído página por página, nas xícaras de café compartilhadas, nos dedos de Carlos que, um dia, limparam uma migalha do canto da boca de Charlie sem pensar, e no modo como o silêncio entre eles deixou de ser constrangedor para se tornar confortável.
Num sábado chuvoso, a livraria estava fechada, mas Carlos trabalhava sozinho. Charlie apareceu na porta, encharcado. “Passei por aqui e vi a luz”, disse, encolhendo os ombros.
Enquanto secava o cabelo de Charlie com uma toalha, Carlos sentiu o coração bater um samba no peito. O mundo lá fora era cinza e molhado, mas dentro da livraria estava quente e dourado. Ele segurou as mãos de Charlie, aquelas mãos que entregavam pacotes, gesticulavam quando falavam e agora tremiam levemente dentro das suas.
“Charlie”, Carlos sussurrou, o nome soando estranho e familiar em sua boca, como uma palavra de um livro antigo que ele sempre quisera ler.
“Carlos”, Charlie respondeu, e seu sorriso já não era um furacão, mas um farol.
E naquela livraria silenciosa, entre pilhas de livros que contavam milhares de histórias de amor, Carlos Verga inclinou-se e encontrou os lábios de Charlie Ferreira. Era um beijo doce, tranquilo, a capa final de uma história que suas almas haviam começado a escrever no primeiro dia. Era o começo do seu próprio livro, um que, eles sabiam, seria encadernado para durar uma vida inteira.