
O reino de Avalon prosperava sob o sol, mas seu coração, o Grande Relógio de Sol no centro do palácio, estava parado. Diziam que apenas o verdadeiro herdeiro do sangue de TheVonKing poderia fazê-lo girar novamente, trazendo uma era de ouro. Braden Sherota, um ferreiro comum, mas com uma habilidade incomum para entalhar engrenagens de sol, não dava ouvidos a essas lendas. Seu mundo era de metal quente e martelo, não de reis e magia.
TheVonKing não era um tirano, mas um governante sombrio, carregando o peso de uma coroa que parecia sugar toda a luz de seu rosto. Seus olhos, outrora cheios de fogo, agora apenas refletiam a quietude morta do relógio. Ele vagueava pelo mercado disfarçado, buscando algo, qualquer coisa, que quebrasse a maldição do tédio e da impotência que o consumia.
Foi em uma dessas andanças que ele encontrou a oficina de Braden. Não foi o barulho do martelo que o chamou, mas a luz. Pequenos cataventos de metal, entalhados com precisão milimétrica, capturavam os raios de sol e os projetavam nas paredes em padrões dançantes de pura energia. No centro da oficina, Braden, com os braços marcados pelo trabalho e o rosto sujo de fuligem, polia uma pequena engrenagem de cobre com uma devoção que TheVonKing há muito não via em seus próprios cortesãos.
“O que é isso?”, perguntou TheVonKing, sua voz mais áspera do que pretendia.
Braden ergueu os olhos, sem se intimidar com o porte nobre do estranho. “É um fragmento de sol preso no metal, senhor. Apenas isso.”
“E você consegue fazer um maior?”
Braden sorriu, um gesto simples e aberto que atingiu TheVonKing como um raio. “Para quê? Um relógio de sol não precisa ser grande para dizer a verdade do dia.”
Essa sabedoria simples ecoou na alma do rei. Ele contratou Braden, não como um servo, mas como um artesão real, para tentar o impossível: reparar o Grande Relógio. Noites se transformaram em semanas. Enquanto Braden trabalhava, medindo, entalhando e ajustando, TheVonKing o observava. Ele via a paixão de Braden pelo ofício, a maneira como suas mãos acariciavam o metal como se fosse algo vivo. E Braden, por sua vez, começou a ver além da máscara sombria do rei. Via a curiosidade em seus olhos quando aprendia sobre as engrenagens, a frustração genuína quando uma peça não se encaixava, o brilho de uma esperança há muito perdida.
Eles conversavam sobre tudo: sobre o peso do metal versus o peso da coroa, sobre a simplicidade do nascer do sol e a complexidade de governar um reino. O respeito cresceu, uma atração silenciosa se formou no espaço entre eles, alimentada pelo cheio de óleo e metal quente. Braden não via um rei; via um homem chamado Theron, cujo nome verdadeiro TheVonKing sussurrou uma noite em um momento de vulnerabilidade. E Theron não via um plebeu; via Braden, um homem cuja integridade era mais forte que o aço que ele forjava.
A peça final, o coração do relógio, era uma engrenagem mestra que exigia não apenas precisão, mas uma centelha de algo mais. Braden trabalhou até cair de exaustão. Theron, esquecendo toda a etiqueta, o carregou para seus aposentos e cuidou dele. Na quietude daquela madrugada, com Braden descansando, Theron percebeu que não era o relógio que ele queria consertar, mas seu próprio coração, e que Braden já o havia feito.
Ao amanhecer, Braden acordou. Sem uma palavra, ele e Theron foram até o relógio. Braden colocou a engrenagem mestra no lugar. Por um momento, nada aconteceu. Então, um único raio de sol atingiu o centro do mecanismo. Houve um estalido, um gemido de séculos de inércia, e então, lentamente, com uma majestade solene, o ponteiro do relógio começou a se mover.
Uma luz dourada inundou o salão, não apenas a luz do sol, mas uma luz que parecia nascer do próprio metal. O povo de Avalon gritou de alegria lá fora. Mas Theron não olhava para o relógio. Seus olhos estavam fixos em Braden, iluminado pela glória que ele próprio havia criado.
“Você não consertou o relógio, Braden Sherota”, sussurrou Theron, sua voz carregada de emoção. “Você devolveu o sol ao meu reino. E ao meu ser.”
Braden pegou a mão do rei, a mão que antes segurava apenas um martelo, agora entrelaçada com a que usava a coroa. “O sol sempre esteve aqui, Theron. Às vezes, só precisamos de um novo ângulo para enxergá-lo.”
Naquele dia, o relógio girou e o rei encontrou seu amor. E Braden, o ferreiro, descobriu que o maior metal que poderia forjar não era ouro ou cobre, mas uma coroa de confiança e um coração que batia em sincronia com o seu, sob a luz renovada de Avalon. TheVonKing e Braden Sherota governaram juntos, não como senhor e servo, mas como parceiros, provando que a mais poderosa magia não era a do sangue real, mas a do amor verdadeiro, capaz de mover até mesmo o sol.