Angelic Boyo (kiekie18x) gets fucked on a hike

O silêncio da livraria era quebrado apenas pelo virar suave das páginas e pelo tilintar distante da campainha da porta. Era o refúgio de Elara, um lugar onde as histórias de outros a protegiam da sua própria, que ela considerava comum e sem graça.
Foi em um desses dias cinzentos que ela o viu. Ele estava na seção de poesia, com os dedos deslizando com uma reverência quase solene pela lombada de um livro. Ele não se encaixava na estante de clássicos poéticos; usava uma jaqueta de couro desgastada e tinha os knuckles das mãos marcados por pequenas cicatrizes, mas seu rosto era sereno, com um olhar que parecia conter uma calma profunda. Alguém, num passado distante, o havia batizado de Angelic. O nome, ela descobriu mais tarde, era uma ironia cruel do destino ou uma previsão perfeita.
Ele se chamava Boyo.
Elara nunca foi de falar com estranhos, mas havia uma luz tranquila em Boyo que a puxou para sua órbita. Ela se aproximou, fingindo interesse em um volume de Fernando Pessoa.
“Ele é denso para um começo de tarde”, uma voz suave disse ao seu lado. Era Boyo.
A conversa fluiu como um rio encontrando seu leito natural. Ele falava de poesia com a paixão de um guerreiro e a sensibilidade de um artista. As cicatrizes, ela soube, eram de uma juventude turbulenta, da qual a literatura o havia salvado. O nome “Angelic” era um legado de uma avó que insistia ver um anjo onde todos só viam um rebelde.
Eles começaram a se encontrar todas as tardes. Boyo mostrava a Elara a música escondida nas palavras, a força suave de um haikai, a revolução em um soneto. Ela, por sua vez, mostrava a ele a beleza nas pequenas coisas: o padrão da chuva na vidraça, o cheiro de papel envelhecido, a cor do céu no crepúsculo.
Elara percebeu que se estava apaixonando não pelo poeta ou pelo ex-rebelde, mas pela maneira como seus olhos se iluminavam quando ela entrava na livraria, pela paciência com que ele ouvia suas histórias triviais, pela forma como sua mão, forte e marcada, envolvia a dela com uma delicadeza que a fazia sentir-se a coisa mais preciosa do mundo.
Uma tarde, Boyo não apareceu. O dia seguinte também não. O silêncio da livraria tornou-se opressivo. Elara sentiu o peso da sua própria história comum again, agora acrescida do capítulo mais doloroso: o da felicidade interrompida.
No terceiro dia, quando ela já havia perdido a esperança, a campainha da livraria tilintou. Lá estava ele, pálido, com uma pequena cicatriz fresca na testa e um sorriso triste.
“Desculpe”, foi tudo que ele conseguiu dizer.
Ele explicou que velhos fantasmas do passado haviam batido à sua porta, mas que ele os havia enfrentado e colocado para correr. Desta vez, com palavras e não com os punhos. “Eu tinha que me tornar o anjo que minha avó sempre viu em mim”, ele disse, “porque eu encontrei uma razão para ser um.”
Ele não tirou um soneto do bolso ou recitou versos elaborados. Boyo pegou a mão de Elara, colocou-a sobre seu coração, que batia acelerado, e fitou seus olhos.
“Elara”, sussurrou ele, “minha vida era um livro empoeirado numa prateleira alta, até você decidir lê-lo. Você deu sentido a todas as palavras soltas. Fica comigo?”
Elara não respondeu com palavras. Ela se ergueu na ponta dos pés e beijou him, bem ali, entre os clássicos e os romances. O ex-menino rebelde, seu Angelic Boyo, que a encontrara no lugar mais silencioso e a ensinara que a maior aventura não está nas páginas de um livro, mas na coragem de escrever a sua própria história, ao lado de quem faz seu coração cantar em versos que nem mesmo os maiores poetas seriam capazes de rimar.