Sam Holister e Scott Braun são bem safados entre quatro paredes

O vento do outono soprava pelas ruas de Nova York, fazendo as folhas dançarem em redemoinhos aos pés dos prédios. Sam Holister encolheu-se dentro de seu casaco, apressando o passo. A galeria ficava a apenas duas quadras dali, mas o frio parecia querer impedi-la de chegar.
Era uma exposição de um fotógrafo novo, alguém que seus amigos diziam ser “incrivelmente promissor”. Sam, uma escritora que vivia de histórias alheias, estava cética. Até que entrou.
As paredes brancas estavam repletas de imagens que não capturavam lugares, mas sentimentos. Havia uma foto de um velho sentado em um banco de parque, segurando duas xícaras de café, uma vazia. Outra de uma criança olhando para um quebra-cabeça pela primeira vez, os olhos arregalados de descoberta. E então, ela parou.
Era uma foto dela.
Não ela literalmente, mas era a sua essência, o seu segredo mais bem guardado. A imagem mostrava uma mulher de costas, olhando pela janela de um trem em movimento. A postura, a curva do pescoço, a maneira como os dedos quase tocavam o vidro… era como se o fotógrafo tivesse invadido seus sonhos mais privados e roubado um pedaço dela. A legenda simplesmente dizia: “Partida, mas presente. 2023. Scott Braun.”